terça-feira, 28 de setembro de 2010

Estatística dos candidatos - O que temos?



A estatística do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pode ser conferida na Internet (http://www.tse.gov.br/internet/eleicoes/estatistica2010/est_candidatura.html), tem informações importantes sobre os candidatos de todo o Brasil que disputam cargos majoritários e proporcionais nas eleições do dia 3 de outubro.

Lá estão disponíveis dados como grau de instrução e ocupação de candidatos a presidente e seu vice, governador e seu vice, senador e seu suplente, deputados federais e estaduais. A estatística é também por sexo, faixa etária, estado civil, coligação, partido entre outros.

Na atualização do dia 28 de setembro, terça-feira, o Paraná tem 1.032 candidatos. Esse número considera todas as candidaturas que foram feitas no prazo legal no Tribunal Regional Eleitoral.

Se considerados apenas os candidatos aptos, o número de candidatos cai para 889. Consideram-se aptos: as candidaturas deferidas, as candidaturas indeferidas com recurso, as candidaturas deferidas com recurso e os substitutivos majoritários pendentes de julgamento.

Vamos mostrar o grau de instrução da totalidade dos candidatos paranaenses, considerando-se que, do total, mesmo os que já foram considerados inaptos tiveram a pretensão de um cargo público eletivo.

Todos os sete candidatos a governador e seus sete candidatos a vice tem curso superior completo. Dos 12 candidatos ao Senado, três tem o ensino médio completo e nove tem o curso superior completo. Dos candidatos à primeira suplência no Senado, sete tem o ensino médio completo, um tem o superior incompleto e seis tem o curso superior completo. Dos candidatos à segunda suplência ao Senado, dois tem o ensino fundamental completo, três tem o superior incompleto e nove tem o superior completo.

Entre os candidatos a deputado federal, três declararam que sabem ler e escrever, dez tem o ensino fundamental incompleto, 22 tem o ensino fundamental completo, 20 tem o ensino médio incompleto, 94 tem o ensino médio completo, 22 tem o ensino superior incompleto e 166 tem o ensino superior completo.

Dos candidatos a deputado estadual do Paraná, sete declararam que sabem ler e escrever, 11 tem o ensino fundamental incompleto, 44 tem o ensino fundamental completo, 16 tem o ensino médio incompleto, 174 tem o ensino médio completo, 66 tem o ensino superior incompleto e 323 tem o ensino superior completo.

Na próxima postagem, vamos mostrar a ocupação de todos que se candidataram a cargos majoritários ou proporcionais no Paraná, também usando o critério da totalidade, que inclui aqueles que já foram considerados inaptos.

No http://walterogama.blogspot.com, confira quem somos, na estatística do TSE dos eleitores.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Crônica - Conversa de rotatória




- De quem é você?

- Desse aqui oh. Dá uma balançada com o vento e olha.

- Hum... Não me parece ficha limpa.

- E quem é? Tem algum aqui nessa rotatória?

- O meu diz que é. Ele está na Câmara dos Deputados há mais de 20 anos. Você acha que se não fosse o pessoal votaria nele?

- Quer que eu dê risada ou aproveite o vento para cair? O meu também tem história na política. Está indo para o sétimo mandato na Câmara.

- Não sei não. Com essa cara lavada não engana ninguém.

- Olha, esse aqui não tem mancha não. Fora o apartamento onde mora com a família não tem mais nada no nome dele.

- Então ele é um grande colecionador de laranjas? Aquele fazenda lá no interior que ele ganhou quando negociou isenções para aquele grupo econômico? Está no nome de quem? Do irmão, do assessor, da tia?

- Disso eu não havia ouvido nada. Mas já ouvi bochichos sobre o carro que ganhou da cooperativa. Mas a documentação está no nome de um sobrinho. Foi o que fiquei sabendo.

- Tá ai. E ainda acha que ele é sério? O que ele vai fazer com você depois da eleição? Te jogar na fogueira.

- Eu vou ficar guardado no barracão da indústria dele que está no nome de um correligionário. Sou apenas uma placa-cavalete. O que poderia esperar?

- Eu também sou uma placa e para vir trabalhar de propagandista nesta rotatória ganhei uns reparos. Uns preguinhos aqui, uma tinta ali. Veja, estou bem mais conservado que você.

- É? Uns preguinhos aqui e outro ali e tudo bem?

- Melhor do que nada. Você, por exemplo, está despregando na perninha esquerda. Logo vai tombar.

- Eu resisto. A não ser que aquela esperada chuva caia antes da eleição.

- Fico admirado com o seu conformismo. Realmente.

- Como o meu? Devia é estar indignado com o silêncio dos eleitores. Estes é que vão sofrer as consequências.

- Nisso eu concordo. E aquela moça ali, com a bandeira do seu candidato? Ela nem imagina, sob este sol de queimar a moleira, que está ajudando quem não merece.

- É o trabalho dela, né. O ganho pão. Talvez ela nem vote para o candidato da bandeira.

- Coitada. Corre o risco de levar um calote.

- Vai, vamos mudar de assunto. Que tal um vento para a gente virar um pouco?

- É, pode ser. Mas placa só mexe quando venta forte.

- Então aproveita, já que você está mais na borda, o vácuo de um carro para cair e me derrubar também. Assim a gente descansa...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Crônica - Trinta e poucos graus



Almoçou feito um cavalo. Jogado numa cadeira de encosto duro ele quase ruminava, indiferente à reação das mulheres que faziam a limpeza do lugar.

Meio-dia e pouco é um horário complicado numa sexta-feira de sol forte e calor insuportável, quase batendo os trinta e cinco graus.

O duro é que não venta. Nem um soprinho balança uma folha de árvore. No estômago do fulano, o feijão e o arroz esquentam junto com a pimenta e o pedaço de lingüiça pura, de suíno. E na marmita havia um gomo inteiro dela, de bom tamanho.

O resultado é uma quentura que sai do corpo pela pele e molha a camisa nas axilas, nas costas e na altura dos peitos.

A porta principal da empresa está fechada para o almoço. Ainda assim o fulano tem que se conter. A frente é de vidro e o pessoal da limpeza está ali, disfarçando no olhar e rindo.

Impossível abrir a camisa. Bocejo só com muito cuidado. E aquele arroto tenta sair. Se houver um esforço para contê-lo, é certo que ele saia silencioso e possa ser confundido com uma engolida seca.

Os olhos são dois cortes feitos de estiletes na cara. Parece que fulano sorri sem parar. Que nada. É que as pálpebras fecham pesadas, ao mesmo tempo em que as vozes das moças que passam pano no chão e expulsam a poeira dos balcões com trapos ficam distantes e confusas.

O sono faz a cabeça pender para frente. O suor escorre. O ponteiro de segundos do relógio de puslo dá voltas. E o ronco, alto, que se escuta mesmo dormindo.

O despertar, cinco ou seis minutos depois, acontece num susto. Lá fora, pelo vidro, se vê a outra metade do dia se abrindo desafiadora, calorenta, cansativa, mas promissora. Pois é uma sexta-feira.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Crônica - Um dia de folga

Foi bem num dia de folga do emprego para compensar o plantão de fim de semana. Quarta-feira, véspera da Primavera, tempo bom e o sol se anunciando assanhado. Leila acordou às seis, como de hábito. Preparou o café das crianças e amoleceu no microondas o pão sobrado de dois dias atrás.

Previu um dia cheio. A bacia de plástico cheia de roupas a serem esfregadas estava ali, exposta e inadiável. Na pia, pratos, copos, talheres e canecas pediam água. No chão da cozinha ciscos: pão, bolacha, grão de arroz e caroço de azeitona encaravam a mulher como se perguntassem: “Quando a senhora vai nos recolher?”

Até a revisão final dos outros cômodos da casa foram-se minutos preciosos. Um paninho para tirar o pó dali, camas para arrumar, toalha para trocar e as cortinas, desalinhadas, pedindo acertos.

De volta à área de serviço, Leila ligou o radinho de pilha que, sob sol ou chuva, fica encostado no beiral da janela, do lado de dentro do apartamento, esperando para ser escutado. Cansada das vozes dos locutores de FM, que não falam, gritam e inventam modas vencidas, a mulher mudou o seletor para as AMs.

E então, horário eleitoral gratuito. Foi sair o som e alguém prometeu: “Para os torcedores, estádios de futebol cobertos...” Outro contou que há quinze anos entra na lista de um tal de diap. Um terceiro repetiu a mesma coisa. Alguém falou em mudar o estatuto da criança. E todo mundo tapou o sol com a peneira. Isso é frase de narrador de futebol dos anos 70.

Leila desligou o radinho, esfregou, varreu, passou, enxugou, transpirou, cozinhou, arrumou, ajeitou e nem teve tempo para um descanso no sofá. Terminou o dia de folga exausta, mas com uma possibilidade: ela, que não freqüenta estádio de futebol, espera que aquele vizinho mala, o mesmo que durante os jogos de futebol de seu time soca a parede, sai na janela para falar besteira e grita o tempo todo terá cobertura quando for ao campo.

Uma pesquisa mostra Tiririca na frente no Estado de São Paulo. E daí? São tantos tiriricas disputando vagas nas assembléias legislativas, câmara dos deputados, senado, governos de estados e presidência. Tudo em minúsculo, com o devido respeito à democracia deste país.

Mas Leila, a trabalhadora que compensou o plantão de sábado e domingo com uma folga, tem critério: ela não vota em candidato de cara lavada. E sobra alguém, minha senhora?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Opinião - Em que acreditar?

Estudo divulgado no início da semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) mostra que o índice de desemprego entre as pessoas que concluíram o ensino médio no Brasil é de 6,1% da população ativa, enquanto entre as que não terminaram o curso é de 4,7%.
Os responsáveis pelo levantamento manifestam que o resultado vai na contramão da tendência verificada nos países ricos, onde a melhor formação educacional proporciona mais oportunidades de empregos.
A OCDE tem abrangêcia internacional. O seu estudo, com base no ano de 2010, foi desenvolvido em 38 países. Denominado Olhares sob a Educação 2010, o levantamento tem o objetivo de alinhavar paralelos entre a formação educacional e o emprego.
Outro levantamento, o da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o nosso IBGE, apresenta um resultado contrário.
A pesquisa do IBGE mostra que a população sem trabalho e a procura de emprego subiu para 8,4 milhões de pessoas entre 2008 e 2009 no Brasil, o que significa aumento de 18,3%, considerado a maior taxa de elevação desde 2001. Já a taxa de desemprego, que fechou em 7,1% em 2008, subiu no mesmo período para 8,3%.
Aqui aparece a diferença com o resultado da pesquisa da OCDE. Pelo IBGE, o desemprego é maior entre os trabalhadores que não concluíram o ensino médio: 13,9% em 2008 e 15,4% em 2009. O índice subiu de 8,1% em 2008 para 9,7% em 2009 no universo de trabalhadores que tem o ensino superior incompleto. Já entre os profissionais com o ensino superior completo, o índice foi de 3,6% em 2008 e subiu para 3,7% em 2009.
Deve ser considerado que o período analisado pelo IBGE é o do ano de 2009. Já no estudo da OCDE, o relatório apresentado esta semana tem como base o ano de 2010. Mas, em se tratando de um levantamento, haveria tanta diferença entre um período e outro?
De qualquer forma, parece mais sensato acreditar nos números da OCDE. Pois com base em levantamentos de diferentes fontes de pesquisa, entre os governamentais e os privados, fala-se em aumento da oferta de empregos com ênfase e entusiasmo. Mas pelo que se percebe as oportunidades são mais acentuadas realmente entre os trabalhadores com formação educacional inferior.
Há muita gente escondendo o diploma universitário no fundo da gaveta. E não é pelo prazer de trocar uma vaga na qual sem investiu anos de estudo por alguma atividade Zé, light. É por falta de emprego mesmo e, conseqüentemente, pelas oportunidades nem sempre serem justas.