quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Crônica - Conversa de rotatória




- De quem é você?

- Desse aqui oh. Dá uma balançada com o vento e olha.

- Hum... Não me parece ficha limpa.

- E quem é? Tem algum aqui nessa rotatória?

- O meu diz que é. Ele está na Câmara dos Deputados há mais de 20 anos. Você acha que se não fosse o pessoal votaria nele?

- Quer que eu dê risada ou aproveite o vento para cair? O meu também tem história na política. Está indo para o sétimo mandato na Câmara.

- Não sei não. Com essa cara lavada não engana ninguém.

- Olha, esse aqui não tem mancha não. Fora o apartamento onde mora com a família não tem mais nada no nome dele.

- Então ele é um grande colecionador de laranjas? Aquele fazenda lá no interior que ele ganhou quando negociou isenções para aquele grupo econômico? Está no nome de quem? Do irmão, do assessor, da tia?

- Disso eu não havia ouvido nada. Mas já ouvi bochichos sobre o carro que ganhou da cooperativa. Mas a documentação está no nome de um sobrinho. Foi o que fiquei sabendo.

- Tá ai. E ainda acha que ele é sério? O que ele vai fazer com você depois da eleição? Te jogar na fogueira.

- Eu vou ficar guardado no barracão da indústria dele que está no nome de um correligionário. Sou apenas uma placa-cavalete. O que poderia esperar?

- Eu também sou uma placa e para vir trabalhar de propagandista nesta rotatória ganhei uns reparos. Uns preguinhos aqui, uma tinta ali. Veja, estou bem mais conservado que você.

- É? Uns preguinhos aqui e outro ali e tudo bem?

- Melhor do que nada. Você, por exemplo, está despregando na perninha esquerda. Logo vai tombar.

- Eu resisto. A não ser que aquela esperada chuva caia antes da eleição.

- Fico admirado com o seu conformismo. Realmente.

- Como o meu? Devia é estar indignado com o silêncio dos eleitores. Estes é que vão sofrer as consequências.

- Nisso eu concordo. E aquela moça ali, com a bandeira do seu candidato? Ela nem imagina, sob este sol de queimar a moleira, que está ajudando quem não merece.

- É o trabalho dela, né. O ganho pão. Talvez ela nem vote para o candidato da bandeira.

- Coitada. Corre o risco de levar um calote.

- Vai, vamos mudar de assunto. Que tal um vento para a gente virar um pouco?

- É, pode ser. Mas placa só mexe quando venta forte.

- Então aproveita, já que você está mais na borda, o vácuo de um carro para cair e me derrubar também. Assim a gente descansa...

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