terça-feira, 13 de julho de 2010

Crônica - Elvis baixou no Calçadão

As barras das calças de cor branca, boca-de-sino, esbarram no chão. Mas não escondem o par de tênis de um modelo que o ídolo nunca usou. A camisa, também branca, tem mangas longas sem punhos. Elas alargam a partir dos cotovelos e tem aberturas nas pontas. É uma peça sem botões na frente. Se falta isso, sobram tecidos para a gola, que sobe dos ombros, cobre todo o pescoço e termina na altura das bochechas, acima de onde fica a metade das enormes costeletas.

Os cabelos são alisados e de um negro que passa do natural. O brilho denuncia pintura. Os olhos ficam escondidos atrás de um enorme óculos de sol. Da boca se enxerga pouco, pois o microfone cobre mais da metade.

Assim o artista de rua ensaia passos, ao som de músicas de Elvis. Contratado por um comerciante para anuncia algum produto ou por iniciativa própria, ele encheu de volume a pequena caixa de som que irradia uma seleção de música gravadas ao vivo. Até os aplausos se ouvem.

Como todos os tocadores de sanfona, aqueles que por uma ironia do destino deixaram de carregar pianos em suas atividades profissionais, o dublê do ídolo enche-se de coragem e faz o que sabe. Bem ou mal ele chama a atenção dos que passam. Não deixa de ser um espetáculo. Ganha o pão de cada dia tocando zabumba, imitando manequim vivo, derrubando malabares nos semáforos.

A vida reserva períodos de surpresas e improvisos. Há os que batem no tamborim. Há os que usam as baquetas para acariciar a pele do instrumento. Nos dois casos há talentos, pois se não há habilidade para dominar a platéia com embaixadas feitas com uma bola oficial, usa-se uma ovalada, que exige mais domínio enquanto se vigia ao lado a caixa de papelão onde alguns, por boa vontade ou admiração, depositam moedas que garantirão o almoço de daqui a pouco.

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