sábado, 17 de julho de 2010

Crônica - O som do silêncio

Um ônibus é prenúncio de uma viagem. Seja de dez, quinze, vinte minutos ou mais. O aviso da partida é o barulho do motor. O indício da saída é a busca do equilíbrio. Segure-se, pois o chão é longe.

As pessoas não se conversam. Algumas delas se encontram todos os dias naquele mesmo horário. E quando alguém se desencontra, surge logo ali uma parada e alguém, silenciosamente, pergunta para si mesmo: "Será que aquele fulano perdeu a hora?" É que o ausente costuma entrar no ônibus naquele ponto.

Sabe-se também onde fulana desce, onde beltrano se senta, para qual lado sicrano se vira quando vai de pé, pendurado no pingente. Percebe-se também o humor do cobrador. Hoje ele está sorridente, até dá bom dia para todos que atravessam a roleta. Mas nem todos respondem, pois não estão acostumados com cumprimentos. Aquela é, afinal uma viagem de trabalho.

O motorista não está com pressa. Se correr chega adiantado, então aproveita uma subida para fazer o pesado veículo trafegar com um ronco mais forte. Justo naquele dia ninguém sobe e ninguém desce. As paradas ajudariam a acertar o horário. Estranho que, em algumas ocasiões de atraso, mais pessoas sobem, mais pessoas descem, e mais a viagem demora.

Não há limite de idade. Pessoas de diferentes faixas procuram nas bolsas os fones de ouvido e viajam, praticamente, sozinhas. Ouvem músicas que outros não conseguem ouvir. Escutam o que, de direto, só elas podem ouvir naquele momento, naquela viagem, e naquele percurso diário rumo ao trabalho.

É um cotidiano interessante, de personagens que vão e vem, quietas e solitárias no meio de uma multidão de outras personagens que chegam e saem, procurando seus rumos, sem trocar palavras, até um ponto final que não é de todos. Cada um tem o seu e preserva-o como algo particular e próprio.

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