Uma rua deserta é um mar por onde se caminha entregue à ferocidade das ondas. É um vai e não vai meio trôpego, pisando num asfalto que parece líquido, de tão inconsistente que é. Isso acontece quando o coração pede para ir, mas as pernas recusam. O que a alma enxerga é o rumo certo, mas os olhos embaçam. É coragem e medo. Decisão e incerteza.
Lá adiante a figura de uma pessoa. Ela vai. Não se sabe a que ritmo. Parece lenta, mas pode haver ilusão de ótica. O andar deve ser vagaroso, mas provavelmente a necessidade de chegar seja urgente. Onde?
O algum lugar é a única certeza. O verbo é o pretende-se. Há um tempo, que se quer o pretérito perfeito. Mas pode ser o contrário. Ficar era um perigo e ir é um risco. Na pior das hipóteses, uma possibilidade adiante se abre. Depois outra e mais outra, atrás de tantas outras até que um dia acontece. Quando isso vier haverá riso e choro de felicidade. E se começará tudo de novo.
Lá atrás ficou uma marca. Na parede de uma loja desativada uma bandeira fincada num mastro de plástico. Não venta e o pano mole cai fechando o letreiro estampado em uma de suas faces.
Não há candidato e nem campanha eleitoral. Maria da Conceição deve participar da democracia apenas votando. Ainda não sabe em quem. Promete avaliar com rigor os que postulam algum cargo. A princípio ninguém ainda a convence.
Tem tempo pela frente para uma decisão acertada. Agora, indo, ela deixa nas suas costas um emprego que a deixava contrariada e vai em busca de uma ocupação que a faça sentir-se uma trabalhadora.
Maria da Conceição não sabe por quanto tempo terá que caminhar, mas tem certeza que chegará.
Há 3 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário