segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Crônica - Andar em círculo

Como um cão atrás do seu próprio rabo. Assim fazem os que se negam a enxergar o futuro. Por isso não andam, apenas dão passos que levam ao mesmo lugar e tornam o ponto de partida uma estrada sem fim e sem rumo.

Martins sabia muito bem disso. Trabalhador de molhar a camisa e escorrer suor pelo rosto, ele aproveitava com plenitude o seu conhecimento acadêmico adquirido até o fim do ensino médio, somado à uma leitura crítica da realidade.

Da mesma forma Martins assimilava com cérebro e alma as coisas que eram ensinadas. Participativo, era presença certa em reuniões do sindicato e da associação de moradores do seu bairro. Ponderado, falava somente quando necessário. Mas a sua fala era um tiro certeiro. Por isso era temido por aqueles que se aproveitam de boa vontade das pessoas para transformar um encontro comunitário em palanque político.

Martins defendeu o quanto pode a participação de candidatos nas reuniões do sindicato, da associação de moradores e da igreja da qual participava. Para os argumentos de que a democracia exigia a presença dos políticos em seus encontros, para que os participantes soubessem quem são eles, Martins retrucava que havia outras formas dos pretendentes a cargos públicos se fazerem conhecidos.

Mas foi vencido na associação de moradores, ondfe apareceu um político se fazendo de pessoa humilde e gastando mais de uma hora da reunião para dizer que fez isso e fez aquilo. No sindicato, o mesmo homem que sempre defendeu o fim de algumas garantias trabalhistas posou de articulador incansável de projetos em defesa dos trabalhadores. Na igreja o homem envolvido em escândalos disse ser um fiel servo do Senhor.

Só acreditaram nesses políticos carreiristas os que andam para a frente, vislumbrando horizontes, e tem o ponto de partida como um lugar que ficou para trás.

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