domingo, 15 de agosto de 2010

Crônica - Ninguém trabalha tanto quanto ele

Vida dura. De manhã, visita à feira livre. Ainda de manhã, visita à outra feira livre. No meio da mesma manhã, parada na banca de pastel para engolir um de carne com café e leite. Dali seguiu pelas bancas. Que trabalho. Dar as mãos para todas as pessoas, feirantes e consumidores. Aquele comerciante estava com a mão molhada, credo. O carregador tinha calos, ui.

Ainda de manhã, duas reuniões. Uma para conversar sobre nada de interessante. O objetivo era conquistar simpatia. Outra para conversar sobre nada, a finalidade era estreitar relações.

O almoço foi num evento beneficente. Feijoada, arg. E nem está tão frio assim para comer tanta gordura armazenada nos joelhos e nas orelhas dos porcos. A linguiça estava rançosa e a couve aguada.

Depois daquele almoço outro almoço. Num lar de velhinhas, que tiveram a refeição daquele domingo patrocinada pelo visitante. E elas lá sabiam disso? Que nada. Comeram os frangos assados como fazem todos os dias. Tristes, olhar distante, encurvadas, esperando pela chegada dos filhos, que não vieram. Então o visitante se foi, acreditando ter cumprido com mais uma etapa de sua jornada de trabalho.

No começo da tarde visita a um campo de futebol, onde os boleiros estavam mais preocupados em garantir vitória do que dar as boas vindas a um estranho no meio. Depois outro campo, outro jogo, outros boleiros indiferentes.

Às seis, missa. Chegou quinze minutos antes, para ter tempo de dar uma volta pelos bancos e cumprimentar a todos. Nem o diácono escapou. O ministério da eucaristia até tentou, mas esbarrou nunca cadeira quando tentava dar a volta e teve que recuar para cumprimentar aquela espécie de trabalhador que vivia de cumprimentar os outros.

Só depois da celebração foi para a reunião do seu grupo político, onde só recebeu elogios dos partidários. Mesmo os contrários falaram bem dele e apresentaram prognósticos animadores. E nem ficaram vermelhos pela mentira.

E o político, candidato a outro cargo, considerou-se com o dever cumprido. Passou o domingo todo apertando as mãos de desconhecidos. Mãos nem sempre limpas, mas de pessoas honestas que pegaram na mão do político por educação.

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