quarta-feira, 30 de junho de 2010

Música - Plegaria a un labrador

Victor Jara foi assassinado em 1973 no Estádio Nacional do Chile pela ditadura chilena, depois de ter as duas mãos quebradas. Porque cantava as agruras do seu povo, como na canção abaixo, Oração a um lavrador. O vídeo foi baixado do Youtube.

Levántate y mira la montaña
de donde viene el viento, el sol y el agua,
tú que manejas el curso de los ríos
tú que sembraste el vuelo de tu alma.

Levántate y mírate las manos
para crecer estréchala a tu hermano,
juntos iremos unidos en la sangre
hoy es el tiempo que puede ser mañana.

Libranos de aquel que nos domina en la miseria
traenos tu reino de justicia e igualdad.
Sopla como el viento la flor de la quebrada
limpia como el fuego el cañón de tu fusil,
hágase por fin tu libertad aquí en la tierra
danos tu fuerza y tu valor al combatir,
Sopla como el viento la flor de la quebrada
limpia como el fuego el cañón de tu fusil.

Levántate y mírate las manos
para crecer estréchala a tu hermano,
juntos iremos unidos en la sangre
ahora y en la hora de nuestra muerte
amén a - a - mén, a - a - mén.


terça-feira, 29 de junho de 2010

Crônica - A voz do outro lado

Desconfio que os recrutadores escolhiam aquelas profissional não somente pela fluência verbal, mas também pela voz. Trabalhavam normalmente em uma salinha fechada. Ninguém de outro setor tinha acesso ao recinto profissional delas. Na entrada ou na saída do expediente, elas geravam comentários:

- Aquela é a moça da voz macia. Olha ela ali, registrando o cartão de ponto.

- Nossa, eu pensei que ela fosse gorda e de mais idade. É uma menina...

As telefonistas de antigamente eram, sim, uma incógnita. Fala pausada, pronúncia correta, um jeito de sempre estar em dia com a paz. Enfrentavam com calma as ligações de clientes e colegas da própria empresa enfurecidos por qualquer motivo e dispostos a descontar a raiva no primeiro que atendesse o telefone. E não usavam gerúndio, do tipo:

- Senhor, vou estar transferindo a sua ligação para o setor competente e o senhor estará sendo atendido imediatamente.

Olha só, elas não usavam gerúndio como fazem hoje em dia alguns profissionais de telemarketing. Isso já era dez, então imagina o resto.

Mantinha-se uma espécie de manto sobre essas profissionais. A solicitude às vezes arrancava ironias de mau gosto de algumas colegas mulheres:

- Imagina, se ela fala assim com todo homem não se sabe o que acontece dentro daquela sala.

Maldade da grossa. Era educação, era cultura, era formação. Na verdade, naqueles tempos não só as telefonistas, mas também a mais simples das auxiliares sabia conversar com os colegas como uma pessoa culta. Se havia cultura, tinha-se como ser culta.

E as telefonistas, principalmente, tornavam-se peças fundamentais da equipe de trabalho. Eu lembro da dona Cida, que se aposentou telefonista. Conhecia todos os setores da empresa em que trabalhava, era colega, era parceira, era solidária. Foi e sempre será uma excelente telefonista, onde quer que esteja. Parabéns pelo 29 de junho.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Verdade - Leve, solto e feliz

Desembarquei do Metropolitana lá pelas dezesseis e pouquinho e percebi pela reação das pessoas que o Brasil já vencia o Chile. Subi a Benjamin Constant a pé, estava disposto a registrar o momento. Só um salão de beleza aberto. O resto com as portas descidas.

Três quarteirões adiante mais gritos de gol, mais rojões. Confirmei com torcedores: dois a zero. Cheguei em casa no intervalo do primeiro para o segundo tempos. Assisti o terceiro gol. Depois os lances, os comentários, as reportagens e etecetera.

Não pelo placar elástico, que talvez tenha sido uma consequência de um estado de espírito diferente no time de Dunga. O futebol praticado ainda foi aquém do que se espera de uma equipe com tantos talentos. Mas não houve carranca.

Se o Brasil encarar a Holanda com esse astral será mais fácil sair do campo sexta-feira com um resultado positivo. É claro, tem que ter muito futebol. Jogadores o Dunga tem.

Precisa só entrar um time pé no chão que saiba valorizar os seus méritos sem menosprezar os adversários. Parece que o elenco brasileiro está chegando nisso, conforme se percebe nas entrevistas. Ganha o futebol, pois com consciência, essa rapaziada joga e muito bem. Humildade é um grande indício de consciência.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Crônica - Sem tempo para ver um empate

Andei preguiçosamente pelo Calçadão de Londrina durante o segundo tempo de Brasil e Portugal, aquele jogo que terminou em zero a zero não por mérito das duas defesas, mas por fracasso daquela linha para frente. Ou as zagas também falharam? Será que nestes times não tinha zagueiro marcador nesta sexta-feira? Em partidas anteriores eles, no mínimo, aumentaram a vantagem no placar, quando não salvaram a pátria.

As lojas desceram suas portas. As farmácias uniram o útil ao agradável. Abertas, reuniram os funcionários na entrada, diante dos aparelhos de tevê, e aproveitaram para aumentar as vendas recebendo fregueses.

Vi pelo menos dois catadores de papéis durante o percurso, que foi muito demorado. Aliás, tão longo quanto os 45 minutos do segundo tempo, que pareciam não acabar a cada tentativa da seleção portuguesa descer para a meta defendida pelos brasileiros.

Com seus enormes carrinhos eles não perderam tempo. Cataram, amontoaram e seguiram adianta, sem ligar para Brasil e nem Portugal. Ganharam o dia trabalhando duro enquanto boa parte do país parou com os olhos grudados na tela da televisão, perseguindo a bola que não chegou ao gol adversário.

E daí? Futebol é uma caixinha de surpresa, diziam no passado os comentaristas do esporte. Um dia a gente ganha, noutro dia a gente perde. E de vez em quando a gente empata e continua na jogada, enganando o nosso ego.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Crônica - Informalidade dura e cobiçada

A estátua viva tem nos braços uma boneca que imita uma criança. A estátua, que é viva, imita uma santa. A estátua, que vive, pede a atenção das pessoas, por isso é uma estátua viva com uma boneca nos braços.

O sanfoneiro imita que sabe tocar uma canção que só conhece a metade. O sanfoneiro, que é bom imitador, toca uma música pela metade. O sanfoneiro toca outras metades de outras canções para ver se a caixa de sapatos colocada aos seus pés tem o fundo coberto de moedas atiradas por quem passa e não percebe que o sanfoneiro é bom até a metade.

O vendedor de líquido milagroso vende a cura para tudo o que é nome de doença. O vendedor de milagre diz que seu produto é bom para alergia. O vendedor de cura prometge aliviar inchaço. O vendedor só não tem remédio para ficar rico de modo a não ter que vender o que não pode curar a doença que faz os que procuram milagres a comprarem promessas em vidros, em cédulas eleitorais, em anúncios políticos e em outros frascos descartáveis.

Informalidades. Filhas da crise e do desemprego, madrastas dos excluídos. Duras para quem se vê obrigado a se submeter. Cobiçadas pelos profissionais do vamos ver no que dá, dentre eles aqueles que sobem nos palanques e prometem milagres para tornar a informalidade menos informal. Como se isso resolvesse...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Crônica - Personalidade plena

Lá pelo início da carreira, repórter iniciante da Folha de Londrina - daqueles que os mais velhos chamam de foca -, recebi uma pauta desafiadora: um evento sobre planejamento familiar.

Entenda: desafiadora porque repórter experiente faz cara feia quando é designado para determinadas coberturas. E evento é aquilo que se acompanha, não se investiga, não se fuça. A não ser que o profissional de jornalismo saia da pauta e procure, talvez na esquina próxima, um fato real que tenha a ver com o que é discutido lá dentro.

Nesse evento que fui designado veio um médico brasileiro lá do Nordeste, muito conceituado no Brasil e no exterior. Tremi. O que fazer diante de uma sumidade? E se eu não souber fazer as perguntas certas? E se o cara perceber a minha insegurança?

Telefonei para os organizadores e busquei o maior número de informações sobre o médico. Indaguei sobre os projetos que ele desenvolvia, a especialização e, aquela pergunta básica: por que ele é tão importante em sua especialidade?

Também com os organizadores consegui uma exclusiva. Cheguei meia hora antes e me estatelei num sofá do hotel onde seria realizado o evento. O médico foi pontual. Alto, magro e metido num terno preto, ele sentou-se a minha frente. Fomos apresentados e dali não tive dúvidas que estava diante da oportunidade de produzir uma boa matéria.

Sabe por que? A modéstia, a educação, a simplicidade daquele cara eram tão perceptíveis quanto o conhecimento que ele tinha em sua especialidade. Tratei com ele de um tema complexo, polêmico, muito importante. Me senti seguro no momento de fazer as perguntas e de escrever. Consegui colocar no papel num assunto científico de um jeito que o mais simples leitor pudesse entender.

Depois da entrevista, antes dele se dirigir à sala de reuniões, conversamos rapidamente sobre outros assuntos. O ombro do terno dele descia até pedaço dos braços. Quando cruzou as pernas vi nos pés daquele ilustre profissional um par de Vulcabrás. E me senti muito mais à vontade.

Voltei para a redação com a firme determinação de escrever um texto claro, objetivo, correto nas informações e acessível para todos. Aquele cara merecia ser mostrado tanto quanto os projetos que ele desenvolvia e as causas que ele defendia.

Eu consegui. E aprendi a escrever de um jeito simples, sem vícios, sem frescuras, sem esnobismo. Aprendi também a ser modesto e simples, a andar de acordo com as minhas capacidades, inclusive no jeito de vestir. Aprendi, enfim, a ser um jornalista.

sábado, 19 de junho de 2010

Crônica - A cara vermelha da mediocridade

Entre loira e polaca, a funcionária de uma repartição aparece lá dos fundos com o rosto corado e pergunta, rispidamente, para a pessoa que espera por atendimento:

- Qual é o problema?

É quase um grito. A pessoa fica assustada, pois, na verdade, ela não está ali para resolver um problema. Havia sido convocada para desenvolver um projeto de interesse de muitas outras pessoas. Então está ali para resolver um problema. Educada, ela se mantem em silêncio, ainda boquiaberta diante da surpresa. Só depois responde:

- Não, na realidade eu vim aqui porque me chamaram. Não há problema.

Mas a moça da cara corada, entre loira e morena, com os olhos claros disfarçando ira atrás das lentes transparentes de óculos redondos, prossegue com o tom grosseiro, os gestos indelicados e as evasivas dos inúteis, desta vez bronqueando com a colega de trabalho que aquele não era um problema dela.

Só ela fala. Com a cara corada, as lentes escondendo furor, os cabelos entre o loiro e o polaco presos para trás e um terninho escuro, mostra que tira aquele momento para escancarar sua personalidade, seu caráter e sua ética.

Tudo abaixo de zero. Numa escala entre o ridículo e o medíocre, ela ficaria com os dois. Mas a atendente pelo menos consegue provar que no mercado de trabalho, em qualquer que seja a profissão, há enganadores. Dentre eles, os que podem ter um conhecimento mínimo da técnica, mas ignoram totalmente a boa educação.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Crônica - O catador de papel

Antes ele usava um terno preto. A camisa branca era fechada até o colarinho. Os cabelos, loiros e longos, caiam para trás lambuzados de gel. O seu meio de transporte era uma bicicleta, nem tão velha e nem tão nova. No bagageiro, sacos de papel catado na rua. No guidão, mais sacos de papel.

Passava pela rua Professor Samuel Moura, na Zona Oeste de Londrina, lá pelas sete da noite. Pontualíssimo. Com ou sem chuva. O terno preto perdendo o brilho, os cabelos crescendo, a pasta que os mantinha alisados rareando.

Depois ele trocou o guidão da bicicleta por um volante de carro. Não se sabe se aquele volante foi fruto de uma compra ou de uma permuta. Instalou uma buzina em forma de corneta e parecia feliz com a impressão de conduzir um carro movido a pedaladas. Saco de papel no bagageiro e presos no volante.

Um dia conversei com aquele homem. Sou cronista e tenho a conversa com as pessoas como um prazer e uma ferramenta de produção. O catador de papel foi simpático. Demonstrou muita vontade de conversar.

Eu queria daquele terno preto do passado. Teria sido resto de um tempo bom? Fiz rodeios para não entrar de impacto, amaciar e não assustar, pois eu havia ouvido uma história: ele teria trabalhado para uma pessoa muito influente da política antes de virar catador de papel. Era a versão que eu tinha.

O homem, educadamente, respondeu que tinha um terno preto que usou até acabar. Não disse mais nada e eu respeitei seu silêncio. Desisti de buscar um passado que ele preferia omitir.

Notinha - Curtíssima e raivosa

Ah, vão te catar! Abrir um site e ter que ler sobre a roupa que o Dunga usou durante o jogo contra a Coréia do Norte é o caos.

Não forcem no sensacionalismo, camaradas. Produzam com criatividade e critério. Isso torna o produto final mais sensato, inteligente e legível.

Se o Dunga vestiu errado? Deixem isso para as revistas de fofocas. Se querem publicar mediocridade, aguardem a nova edição do BBB.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Notonas - Será que o Brasil parou?

Os porteiros brasileiros

O Brasil já havia entrada em campo. A bola começava a rolar. Dei um tempo, apesar de ser um pedestre. Não era conveniente atravessar ruas londrinenses contornando veículos conduzidos por motoristas de olhos vidrados nos cabelos espetados de Dunga, o grande mestre.

Quinze minutos depois do apito do árbitro, autorizando o início da partida, deixei o escritório. Era um vazio na rua. No posto de combustível em frente, os frentistas, acomodados diante de um pequeno aparelho de tevê, vibravam mais com a folga do que com os lances do jogo.

Atravessei ruas de olhos fechados, passei por bares que instalaram telões e vi torcedores animados com o colarinho nos copos. Ninguém grudava a cara na imagem exibida. Ninguém ouvia o Galvão Bueno dizer que o que estava ruim era muito bom. Ou viceversa.

Mais adiante encontrei o porteiro de um estacionamento. Expressão de tristeza. Será que era por falta de uma televisão? No ponto de ônibus algumas trabalhadoras, esperando a condução que não vinha. Cara de ansiedade. Mas não de saber do jogo. Pressa de chegar em casa.

Foram trinta minutos de caminhada. No meu prédio, o porteiro fez cara de solidão quando eu cheguei. Sem tevê e sem rádio, ele teve a sorte de não ter que se enervar por 90 minutos. Eu tive o segundo tempo e tremi de medo da derrota.

Comemoração inteligente

Desceram dois carros do Corpo de Bombeiros meia hora depois de encerrado Brasil e Coréia do Norte. Sirenes ligadas, pedindo passagem aos veículos cujos motoristas comemoravam com buzinaços e barberagens. Indício de que alguém descuidou na comemoração.

Teimosia idiota

Aliás, na saída de um supermercado, o motorista guarda as compras no porta-malas. Sem largar a latinha aberta de cerveja. No banco de trás, os filhos, crianças, esperavam pelo pai bebedor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Curtas - Na veia, sem dó e nem sutilidade

Entre uma garfada e outra, misturei capítulos de novelas com chamadas do noticiário. Engoli comerciais, bebi anúncios de refrigerantes, apreciei ofertas de roupas e de financiamentos de carros. De repente...

Tudo isso hoje, uma segunda-feira, dia 14 de junho de 2010. Imaginei ter saído do tempo, viajado para o futuro. Talvez a fome tivesse batido mais forte no estômago e afetado a sã consciência. Será? Na verdade, o almoçou foi um sorvete de oitenta centavos, apesar do inverno. A refeição, ligeiríssima, foi feita no centro de Londrina, onde faz calor onde o sol se faz forte e sente-se frio sob as árvores e na sombra dos prédios.

Então lembrei-me da necessidade de alguma coisa com sal. Dei mais uma garfada, misturada a mais um capítulo da novela de início de noite, com mais anúncios de roupas, carros, móveis, ímóveis, aparelhos eletrônicos, refrigerantes e cervejas. De repente, de novo...

Não era fome e nem necessidade de sal. Por isso conferi o calendário: 14 de junho de 2010, segunda-feira. Tudo certo na folhinha. Então o que era aquilo que eu vi por duas vezes na tevê? Propaganda eleitoral?

O texto falava das bolsas famílias no Paraná. Valores e quantidade de pessoas beneficiadas. Poderia ser um informe, um fique sabendo. Mas apareceu um deputado federal do governo federal, possível candidato à reeleição. Depois apareceu uma pretensa candidata. E ambos discursaram. O tom foi de "hei, você ai, me dá o seu voto..."

Leigo que sou em legislação eleitoral, ainda assim entenderia como propaganda um simples informe com o uso de pretensos candidatos a cargos eletivos nas eleições de outubro. Mas o que se viu foi sem piedade. Coisa parecida com peça de campanha eleitoral.

Assim, sem entrar o mérito do certo ou do errado, neste período que antecede a campanha eleitoral de 2010 - ainda estamos nos segredinhos do Dunga, o que eu questiono é se teriam o direito de invadir a minha casa no começo da noite para fazer sensacionalismo sobre obrigações que teriam que ser feitas no silêncio.

Além disso, me tiram o sabor das garfadas e o sonho de um carro novo, uma televisão enorme, refrigerante entupindo a geladeira e roupas de grife alimentado pelos comerciais da televisão. É um absurdo imaginar que eu engulo mais esta, senhor governo federal.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Realidade nua e crua - Vale tudo na luta pela sobrevivência



O que eu faria se trabalhasse no comércio e o patrão pedisse para pintar a cara de verde e amarelo e ficasse na porta da loja tocando uma corneta? Dilema e polêmica.

A resposta seria fácil se estivessemos em um país de relações justas de trabalho. Se eu fosse vendedor, diria ao patrão que a minha função é outra. Recomendaria, se fosse o caso, a contratação de uma pessoa especializada na arte de chamar a atenção do consumidor. Um ator, por exemplo.

Esse profissional especializado faria aquilo que está dentro do seu quadrado. Pintaria a cara de um jeito interessante, vestiria roupas adequadas para formar um figurino, saberia quando e como fazer barulho com a corneta, improvisaria falas convenientes para a ocasião e faria, inclusive, as pessoas pararem para assistí-lo.

A loja, por outro lado, mereceria a simpatia do público. Desse meio poderiam surgir potenciais consumidores de cornetas, camisetas, bonés, copos, cadernos, apitos, viseiras, meias e tudo o mais que foi produzido com as cores da seleção brasileira de futebol.

Mas falamos lá em cima em dilema e polêmica. Um dos motivos: uma loja do centro de Londrina determinou aos atendentes que chamassem os fregueses com o barulhaço das cornetas. Vendedor de balcão, legalmente falando, não tem que fazer isso. Tem é que vender bem com as ferramentas que dispõe: mercadoria interessante, preço convidativo, condições de pagamento aceitável e, o principal, o domínio da arte de vender. Isso não inclui se fantasiar e fazer barulho.

O segundo motivo: poluição sonora, numa cidade onde os decibéis deprimem. São roncos de motos, carros com som estourado na cara da polícia de trânsito, ônibus gemendo na subido, propagandista de loja gritando no microfone e muito mais. Ah, falamos no propagandista de loja. É uma categoria profissional distinta, nada a ver com vendedor. Embora saibamos que em determinados estabelecimentos o próprio dono pega o microfone e tenta invadir esse quadrado, com voz, pronúncia e português precários.

O terceiro motivo. Ou melhor, a situação lá no emprego, num mercado de trabalho apertado e sufocante: o empregado é obrigado a se submeter. Talvez porque essa submissão doa menos do que ter que chegar em casa sem emprego e descobrir que nem todo o sindicato é um sindicato. A igreja, por acaso, teria uma pastoral do desempregado? Existe algum grupo de apoio, inclusive na área da psicologia, para acolher a pessoa desempregada?

Não é preciso mais argumento. Está explicado. A copa, infelizmente, permite exceções. A foto foi extraída a partir de ferramenta de pesquisa do Google.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Registro - Por um Paraná mais limpo




Dois momentos do ato público da noite de terça-feira, 8 de junho de 2010, no Calçadão de Londrina. Neles, a presença da igreja na luta contra a corrupção, com o representante da comunidade Católica e dos Evangélicos. Faltou espaço, não por culpa da superlotação. O local onde o ato foi realizado é que dificultou para o público. Atrás do palanque, um marco nada saudável: os restos de um quiosque recentemente destruído, sem que nada ainda tenha sido feito. Projetos e promessas podem se perder ao vento.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crônica - Eu vou plantar couve, mulher



Lá pelos idos de antigamente Vanuso conseguiu um emprego na prefeitura da cidade onde morava. Na repartição onde teve que se apresentar para entregar a documentação e fazer o exame médico, informaram ao dito cujo que ele seria um coveiro.

"Ótimo!" - pensou o crioulinho. "Lidar com horta é comigo mesmo." Vanuso era um apelido irônico, mas ao mesmo tempo carinhoso que os amigos deram. Na época, uma grande intérprete da música popular brasileira fazia sucesso nas rádios não somente pelo talento e pela voz, mas também pela beleza. A cantora era de um loiro extraordinariamente dourado. Ao que parece, eram tons naturais da pele e dos cabelos. Bem ao contrário do Vanuso que conseguiu emprego de coveiro.

Mas isso não vem ao caso, é apenas um detalhe. O fato é que o emprego empolgou o homem, que não via a hora de chegar em casa e contar para a mulher e os filhos que estava empregado. Melhor ainda: numa vaga que aproveitava o seu conhecimento com a agricultura.

Papéis preenchidos, entrevistas feitas e exame médico entregue no departamento de pessoal, lá foi Vanuso, correndo para o bairro onde morava. A pé, o percurso levava uns quarenta minutos. De tão apressado, Vanuso cumpriu o trajeto em trinta e três e meio, se é que o ponteiro de minutos do relógio, um tanto solto, não havia trepidado em trecho de mais solavancos. Lá do portão feito de balaústra ele gritou:

- Mulher, eu vou trabalhar na agricultura. Fui contratado como coveiro da prefeitura.

Foi aquela festa. A molecada fez até a lista de necessidades: estojo novo para fulano, bola de capotão para uso geral, bolsa comprada no bazar da esquina e assim por diante.

Três dias depois Vanuso se apresentou na repartição, que deu o endereço de onde ele iria trabalhar:

- Este endereço é aqui no centro...

- Sim, uns quarteirões adiante. Nem precisa esperar o carro que vai levar o pessoal para longe. Segue aqui, dobre ali e contorne à direita. Vai dar de cara...

Vanuso seguiu a orientação e chegou ao endereço. Caiu na portaria do cemitério municipal. Lá estava o administrador, para quem Vanuso perguntou, indignado:

- Mas como eu vou plantar couve aqui no cemitério? O senhor me explica.

Entre hilárico e desaforado o administrador foi na jugular:

- Homem, o senhor foi contratado como coveiro, e não couveiro. Plantar couve só no quintal da sua casa. Aqui o senhor vai cavar para enterrar morto.

Dito isto deu a pá para o novo subordinado, que por anos trabalhou com zelo, dedicação e respeito aos falecidos e seus parentes.

Esta crônica foi extraída de um caso real. Entrevistei Vanuso anos atrás e fiz uma reportagem com ele, publicada num jornal daqui de Londrina. Vanuso, a quem tenho muito admiração, trabalhou por muito tempo no Cemitério São Pedro e depois eu o vi, há um bocado de anos, no Cemitério Padre Anchieta. Ele já estava com os cabelos branquinhos, quase iguais aos da Vanusa cantora.

domingo, 6 de junho de 2010

Convocação Geral - Todos no Calçadão

Todos no Ato Público de terça-feira, 8 de junho de 2010, no Calçadão de Londrina. Às 18 horas.

"Vamos mostrar a nossa indignação com a corrupção e os desvios de dinheiro público na Assembléia Legislativa do Paraná!" - convoca folheto da OAB-Londrina e da Acil.

Aliás, não só lá, como também aqui e em Brasília. Hora de parar a hibernação e tomar atitudes sérias e concretas, valendo inclusive para as eleições de presidente da República, senadores, governadores, deputados federais e deputados estaduais.

Chega de clientelismo!

Mais detalhes no www.novoparana.com.br

sábado, 5 de junho de 2010

Crônica - Com os pés firmes no chão e a cabeça no seu devido lugar



Sou neste momento um torcedor apático. Não comprei verde e amarelo, com a firme convicção de que o fato de não ter contribuido gastando em mercadorias com as cores da seleção brasileira de futebol nada tem a ver com alguma reação de debilidade do meu patriotismo. A minha brasilidade está segura sem as cornetas, as camisas, os bonés e outros apetrechos colocados no comércio e difundidos com entusiasmo interesseiro pelos meios de comunicação de massa.

É que decidi não entrar nessa onda e até desligo a tevê quando as equipes de jornalismo das diferentes emissoras ultrapassam o limite do tolerável para vender paíxão, uma coisa que não se comercializa.

Qual é a cor da cueca do Dunga? Que comidinha a mamãe prepara para o craque? Como é o corte do cabelo da namorada do boleiro que esquenta o banco? Será que tem clima de guerra entre os torcedores na fronteira? As empresas vão dar folga aos trabalhadores nos horários dos jogos?

Ah, vão te catar... Essas sondagens matam. São repetitivas a cada quatro anos. Enervam, pois percebe-se os olhinhos dos empresários de comunicação brilhando e refletindo cifrões, na medida em que se produzem matérias de interesse dos patrocinadores.

O que mais falta explorar num momento deste? Aquilo que ninguém quer tocar, a ferida. Mas as minhas cores não desbotam. São verde, amarelo, azul e branco. São as cores do meu sentimento de cidadão brasileiro.

Cores que me lembram que estamos num país de desempregados, de miseráveis, de pessoas sem oportunidades, de distribuição de renda escancaradamente desigual. Isso é discurso? Depende de quem avalia. Para mim, é uma realidade. Enxerga-a quem se conduz com descência, dignidade e ética, o que é muito raro na política e na vida pública. Sente-a quem tem a coragem de ser honesto, o que costuma ser precário nos jornais.

Se vale um apelo, que seja este, simplório mas verdadeiro: por favor, não usem a tentativa do hexa para fechar mais ainda os olhos de quem já está culturalmente morimbundo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Opinião - Quem é o responsável pela bagunça



Uma tímida campanha de esclarecimento anunciou a implantação do chamado "pé na faixa" em Londrina. Agora, valendo multa para o motorista transgressor, a bagunça é generalizada e não isenta de culpa o poder público, o motorista, o motociclista, o ciclista e o pedestre.

Tirando o poder público, eu sou o resto: ando a pé, trafego de bicicleta, saio de moto e dirijo um carro. Nas quatro condições ainda tenho dúvidas diante de uma faixa de pedestres.

Nos locais onde o "pé na faixa funciona", aciono o alerta do carro com aquela desconfiança de que o motorista de traz vai entrar com tudo no meu carro. Onde o sistema não funciona, já fui xingado por pedestre.

A pé, mesmo nos locais onde há plaqueta identificando o pé na faixa, fico com muito receio. O carro próximo de mim pára, mas e outro, que está vindo ao lado?

Ontem parei no pé na faixa logo após o balão da Avenida Santos Dumont que dá acesso à JK. Fica muito próximo do balão e quem vem atrás não sabe. Levei um buzinão do cara de trás que até cantou pneu para frear. Apontei com o dedo a placa do pé na faixa mas ele não entendeu. Me ultrapassou e saiu xingando.

Em Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal, a campanha de conscientização durou um ano. Lá, usaram um cão em campanha de televisão. O cão, sem colocar o pé na faixa, portanto ainda na calçada, parava diante da faixa e levantava a pata. Os carros ligavam o alerta e paravam.

Pois é. Veja a diferença. Lá o pedestre não pode colocar o pé na faixa. Ele tem que parar diante da faixa, ainda na calçada, e levantar a mão. Se não fizer isso o carro não pára. Lá pedestre não invade faixa sem dar o sinal e motorista respeita quando o sinal é dado.

O pedestre e o motorista de lá são diferentes? Não, acho que o poder público que acionou o sistema por lá pensa. Aqui, implanta uma fábrica de multas e desacertos.

Recado - Consciência, conscência

Veja ao lado que hoje é o Dia Mundial do Administrador de Pessoal. Em Primeiro, os parabéns deste blogueiro a todos os profissionais que atuam na área.

Em segundo, um pedido especial: consciência, consciência, consciência. Não pactuem com empresários ou colegas que desrespeitam o profissional experiente por causa da idade. Por favor, sejam humanos e pés no chão. Atuem de acordo com a realidade brasileira.

Consciência, consciência, consciência. Debatam no seu meio os efeitos nocivos de alguns sistemas de gestão em uso. Vocês também são trabalhadores. Despertem para isso, por favor.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Sem resposta - Se o calo não arde...

Pedi a dois conhecidos, advogados, que contribuissem com este modesto blog com um artigo. Na verdade, sugeri a eles que fizessem uma análise da situação das trabalhadoras que atuam como empregadas domésticas.

Já vai para a terceira semana e nada. Não é nos pés de todos que as bolhas de água inflamam. Eu queria o ponto de vista de advogados para debater questões levantadas por uma colaboradora do blog. Eu não pedi para eles atenderam gratuitamente uma pessoa que está desempregada. Isso nunca. Eu não sou político para trabalhar com favores.

Rapidinha - É o sovaco da cobra

Tentei semana passada me inscrever no processo seletivo de monitores para o Projovem Trabalhador. As notícias que foram divulgadas sobre a seleção, nas emissoras de rádio, na televisão e nos jornais impressos, orientavam que o interessado deveria comparecer na agência do Sine com o currículo e documentos pessoais.

Confesso que após tantas informações com o mesmo teor, não tive interesse de saber mais detalhes no site da Agência do Trabalhador. Cheguei no Sine lá pelas 13 horas portando a papelada exigida. Retirei uma senha e lá fiquei até às 16 horas, quando chegou a minha vez de ser atendido.

No guichê, o funcionário me pediu a Carteira de Trabalho. Eu não havia levado. Ponderei que o número e a série da Carteira constavam no currículo. O funcionário não pode, ainda assim, fazer a minha inscrição.

Foram quatro horas de espera pelo atendimento. O funcionário cumpriu determinação, ele não podia transgredir. Quantos aos meios de comunicação, ah, estes...

Desconfiei que os jornalistas responsáveis pela divulgação receberam material encaminhado pelo Sine e nem ao menos fizeram uma checagem jornalística para conferir os dados. Apenas reproduziram.

Isso é coisa de jornalismo oficioso, que depende de material pronto enviado pelas assessorias de imprensa. Acreditam em tudo, por isso não fazem checagem. Pensam que cumprem alguma função, mas acabam prejudicando mais ainda com informações incompletas.

Depois esperneiam quando os patrões trocam jornalistas formados por técnicos despreparados para este nobre ofício de fazer jornalismo.