sábado, 5 de junho de 2010

Crônica - Com os pés firmes no chão e a cabeça no seu devido lugar



Sou neste momento um torcedor apático. Não comprei verde e amarelo, com a firme convicção de que o fato de não ter contribuido gastando em mercadorias com as cores da seleção brasileira de futebol nada tem a ver com alguma reação de debilidade do meu patriotismo. A minha brasilidade está segura sem as cornetas, as camisas, os bonés e outros apetrechos colocados no comércio e difundidos com entusiasmo interesseiro pelos meios de comunicação de massa.

É que decidi não entrar nessa onda e até desligo a tevê quando as equipes de jornalismo das diferentes emissoras ultrapassam o limite do tolerável para vender paíxão, uma coisa que não se comercializa.

Qual é a cor da cueca do Dunga? Que comidinha a mamãe prepara para o craque? Como é o corte do cabelo da namorada do boleiro que esquenta o banco? Será que tem clima de guerra entre os torcedores na fronteira? As empresas vão dar folga aos trabalhadores nos horários dos jogos?

Ah, vão te catar... Essas sondagens matam. São repetitivas a cada quatro anos. Enervam, pois percebe-se os olhinhos dos empresários de comunicação brilhando e refletindo cifrões, na medida em que se produzem matérias de interesse dos patrocinadores.

O que mais falta explorar num momento deste? Aquilo que ninguém quer tocar, a ferida. Mas as minhas cores não desbotam. São verde, amarelo, azul e branco. São as cores do meu sentimento de cidadão brasileiro.

Cores que me lembram que estamos num país de desempregados, de miseráveis, de pessoas sem oportunidades, de distribuição de renda escancaradamente desigual. Isso é discurso? Depende de quem avalia. Para mim, é uma realidade. Enxerga-a quem se conduz com descência, dignidade e ética, o que é muito raro na política e na vida pública. Sente-a quem tem a coragem de ser honesto, o que costuma ser precário nos jornais.

Se vale um apelo, que seja este, simplório mas verdadeiro: por favor, não usem a tentativa do hexa para fechar mais ainda os olhos de quem já está culturalmente morimbundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário