Há 3 anos
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Realidade nua e crua - Vale tudo na luta pela sobrevivência
O que eu faria se trabalhasse no comércio e o patrão pedisse para pintar a cara de verde e amarelo e ficasse na porta da loja tocando uma corneta? Dilema e polêmica.
A resposta seria fácil se estivessemos em um país de relações justas de trabalho. Se eu fosse vendedor, diria ao patrão que a minha função é outra. Recomendaria, se fosse o caso, a contratação de uma pessoa especializada na arte de chamar a atenção do consumidor. Um ator, por exemplo.
Esse profissional especializado faria aquilo que está dentro do seu quadrado. Pintaria a cara de um jeito interessante, vestiria roupas adequadas para formar um figurino, saberia quando e como fazer barulho com a corneta, improvisaria falas convenientes para a ocasião e faria, inclusive, as pessoas pararem para assistí-lo.
A loja, por outro lado, mereceria a simpatia do público. Desse meio poderiam surgir potenciais consumidores de cornetas, camisetas, bonés, copos, cadernos, apitos, viseiras, meias e tudo o mais que foi produzido com as cores da seleção brasileira de futebol.
Mas falamos lá em cima em dilema e polêmica. Um dos motivos: uma loja do centro de Londrina determinou aos atendentes que chamassem os fregueses com o barulhaço das cornetas. Vendedor de balcão, legalmente falando, não tem que fazer isso. Tem é que vender bem com as ferramentas que dispõe: mercadoria interessante, preço convidativo, condições de pagamento aceitável e, o principal, o domínio da arte de vender. Isso não inclui se fantasiar e fazer barulho.
O segundo motivo: poluição sonora, numa cidade onde os decibéis deprimem. São roncos de motos, carros com som estourado na cara da polícia de trânsito, ônibus gemendo na subido, propagandista de loja gritando no microfone e muito mais. Ah, falamos no propagandista de loja. É uma categoria profissional distinta, nada a ver com vendedor. Embora saibamos que em determinados estabelecimentos o próprio dono pega o microfone e tenta invadir esse quadrado, com voz, pronúncia e português precários.
O terceiro motivo. Ou melhor, a situação lá no emprego, num mercado de trabalho apertado e sufocante: o empregado é obrigado a se submeter. Talvez porque essa submissão doa menos do que ter que chegar em casa sem emprego e descobrir que nem todo o sindicato é um sindicato. A igreja, por acaso, teria uma pastoral do desempregado? Existe algum grupo de apoio, inclusive na área da psicologia, para acolher a pessoa desempregada?
Não é preciso mais argumento. Está explicado. A copa, infelizmente, permite exceções. A foto foi extraída a partir de ferramenta de pesquisa do Google.
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