Sem Sapeka,
sem economia
O sábado, 29 de maio de 2010, foi um dia de muito movimento comercial em uma loja de calçados do centro de Londrina. Atraídos pelos preços de liquidação de estoque, muitos consumidores visitaram o estabelecimento e compraram sandálias femininas até por R$ 9,90. Alguns de couro, acabamento de primeira e grife conceituada. Sapatos masculinos de boa marca puderam ser comprados por R$ 19,90.
A loja trabalhava com a ponta de estoque de uma grande e conceituada rede de calçados de Londrina. Ali o consumidor menos exigente encontrava calçados com alguma diferença de cor, porque um dos pares era mantido na embalagem e o outro ficava na vitrine. Com alguns dias de uso, os dois pés ficavam iguais. Uma outra loja da mesma rede, também de ponta de estoque, fechou as portas no Calçadão semanas antes.
Correria e tristeza
dos funcionários
Passei rapidamente pela loja em seu último dia de funcionamento. Eu era cliente. Não tenho nenhum constrangimento de dizer que todos os calçados que tenho hoje em casa foram comprados ali. Olhem para os meus pés e verão. Uso sapatos que custariam normalmente R$ 150,00. Mas paguei por eles, quando muito, R$ 49,90.
Há quem se sinta envergonhado disso. Eu tenho orgulho de ter pago um preço justo. Fiquei dez meses sem emprego, tentando ganhar a vida como freelancer na área de comunicação. Minha esposa, Maria Aparecida, e meu filho, Wellington Thiago, com a compreensão e a anuência dos meus dois outros filhos, Francis Vinicius e Mickael Hermano, é que me deram muito força e mantiveram o orçamento doméstico em dia. Nem seria consciente gastar três vezes mais quando se pode calçar com um terço do valor.
Muitos projetos
e nada consolidado
Vivi o pesadelo na condição de freelancer. Elaborei muitos projetos. Ouvi muitas promessas. Não acertei nada. Até tentei a área de vendas, mas confesso que fracassei. Não tenho dom para esta profissão. Por isso, repito o que já disse neste blog, admiro muito os bons vendedores.
Reacendo neste momento uma questão preocupante. Nas primeiras postagens deste blog, levantei a lebre sobre o risco do desempregado enfraquecer e ser acometido de uma depressão profunda. Nos meus primeiros meses de desemprego, em alguns dias eu tinha medo de sair às ruas. O receio era de alguém me perguntar o que eu fazia. Eu tinha vergonha de admitir que estava desempregado. Gostaria muito, muito mesmo, que profissionais da área de psicologia participassem desta oportunidade de debater um tema muito sério. Já fiz este apelo, mas até agora não recebi retorno.
Sem glórias, mas
sem pregos na cruz
Hoje conversei com um amigo e ponderamos que, às vezes, a honestidade é difícil de ser reconhecida. Ele relatou sobre uma atividade que exerceu. Lutou pela transparência e pela ética. Colocou-se contra colegas que transgrediram. Ninguém, exceto a família, reconhece isso.
Eu já renunciei a um cargo muito cobiçado porque a empresa onde trabalhava demitiu duas pessoas fundamentais de minha equipe. Com a renuncia ao cargo, fui em seguida demitido, pois não havia como a empresa manter-me em outra função com o salário de um chefe. Recebi as costas de muitos colegas. Nem a solidariedade do meu sindicato tive. Anos depois, ainda fui obrigado a ter que ouvir que um daqueles demitidos guardava mágoas de mim. Inventaram que eu é que o havia demitido, porque ele fazia sombra para mim. Jamais acreditarei que isso partiu dele, que além de colega, era um grande amigo.
Currículos
engavetados
Mandei mais de 200 currículos por e-mail para empresas localizadas em outras cidades e estados. Fiz telefonemas e algumas visitas. Levei currículo impresso de porta em porta. Tive, com toda a sinceridade, dois retornos. Em um deles, fui chamado para um teste. Que eu saiba de todos os que concorreram comigo ninguém foi contratado, o que me leva a crer que fomos uma turma de incapacitados. Ou não?
Foi lá longe, no Rio Grande do Sul, onde nunca estive profissionalmente, que me deram a chance de ser freelancer de uma revista. Analisaram o meu currículo, pediram textos e acharam que eu servia. Numa empresa de comunicação aqui do Paraná, em Curitiba, telefonei oito vezes e nem consegui um contato de cinco minutos com o diretor de redação.
O que eu puder
eu faço com gosto
Por isso volto a falar do fechamento da loja de calçados. Eu pouco posso fazer pelos funcionários que ficaram sem emprego desde esta segunda-feira. Eu posso ajudar com o meu blog, debatendo, ponderando, pedindo a participação de pessoas especializadas que possam encaminhar esta discussão: o mercado de trabalho especializado está muito restrito. Tem que ser jovem, tem que ter especialização (mesmo que o título seja comprado), tem que ter inglês fluente. A experiência é raramente considerada.
Torço muito para que os bons vendedores daquele loja, que neste momento é apenas mais uma porta fechada, consigam empregos rapidamente. Eu, com dez meses parado, quase cheguei ao fundo do poço financeira e psicologicamente. Não quero isso nem para o meu pior inimigo.
Se apostam na dignidade, na ética, na boa vontade, na solidariedade, na justiça e na verdade, estou aqui. Se for necessário, encabeço a formação de um fórum, ou um grupo de apoio, enfim, um organismo para discutirmos isto que manifestei acima e muito mais. Espero não ser uma voz perdida no meio da multidão. Muito Obrigado.
Há 3 anos