segunda-feira, 31 de maio de 2010

Curtas - Mais uma porta fechada

Sem Sapeka,
sem economia


O sábado, 29 de maio de 2010, foi um dia de muito movimento comercial em uma loja de calçados do centro de Londrina. Atraídos pelos preços de liquidação de estoque, muitos consumidores visitaram o estabelecimento e compraram sandálias femininas até por R$ 9,90. Alguns de couro, acabamento de primeira e grife conceituada. Sapatos masculinos de boa marca puderam ser comprados por R$ 19,90.

A loja trabalhava com a ponta de estoque de uma grande e conceituada rede de calçados de Londrina. Ali o consumidor menos exigente encontrava calçados com alguma diferença de cor, porque um dos pares era mantido na embalagem e o outro ficava na vitrine. Com alguns dias de uso, os dois pés ficavam iguais. Uma outra loja da mesma rede, também de ponta de estoque, fechou as portas no Calçadão semanas antes.

Correria e tristeza
dos funcionários


Passei rapidamente pela loja em seu último dia de funcionamento. Eu era cliente. Não tenho nenhum constrangimento de dizer que todos os calçados que tenho hoje em casa foram comprados ali. Olhem para os meus pés e verão. Uso sapatos que custariam normalmente R$ 150,00. Mas paguei por eles, quando muito, R$ 49,90.

Há quem se sinta envergonhado disso. Eu tenho orgulho de ter pago um preço justo. Fiquei dez meses sem emprego, tentando ganhar a vida como freelancer na área de comunicação. Minha esposa, Maria Aparecida, e meu filho, Wellington Thiago, com a compreensão e a anuência dos meus dois outros filhos, Francis Vinicius e Mickael Hermano, é que me deram muito força e mantiveram o orçamento doméstico em dia. Nem seria consciente gastar três vezes mais quando se pode calçar com um terço do valor.

Muitos projetos
e nada consolidado


Vivi o pesadelo na condição de freelancer. Elaborei muitos projetos. Ouvi muitas promessas. Não acertei nada. Até tentei a área de vendas, mas confesso que fracassei. Não tenho dom para esta profissão. Por isso, repito o que já disse neste blog, admiro muito os bons vendedores.

Reacendo neste momento uma questão preocupante. Nas primeiras postagens deste blog, levantei a lebre sobre o risco do desempregado enfraquecer e ser acometido de uma depressão profunda. Nos meus primeiros meses de desemprego, em alguns dias eu tinha medo de sair às ruas. O receio era de alguém me perguntar o que eu fazia. Eu tinha vergonha de admitir que estava desempregado. Gostaria muito, muito mesmo, que profissionais da área de psicologia participassem desta oportunidade de debater um tema muito sério. Já fiz este apelo, mas até agora não recebi retorno.

Sem glórias, mas
sem pregos na cruz


Hoje conversei com um amigo e ponderamos que, às vezes, a honestidade é difícil de ser reconhecida. Ele relatou sobre uma atividade que exerceu. Lutou pela transparência e pela ética. Colocou-se contra colegas que transgrediram. Ninguém, exceto a família, reconhece isso.

Eu já renunciei a um cargo muito cobiçado porque a empresa onde trabalhava demitiu duas pessoas fundamentais de minha equipe. Com a renuncia ao cargo, fui em seguida demitido, pois não havia como a empresa manter-me em outra função com o salário de um chefe. Recebi as costas de muitos colegas. Nem a solidariedade do meu sindicato tive. Anos depois, ainda fui obrigado a ter que ouvir que um daqueles demitidos guardava mágoas de mim. Inventaram que eu é que o havia demitido, porque ele fazia sombra para mim. Jamais acreditarei que isso partiu dele, que além de colega, era um grande amigo.

Currículos
engavetados


Mandei mais de 200 currículos por e-mail para empresas localizadas em outras cidades e estados. Fiz telefonemas e algumas visitas. Levei currículo impresso de porta em porta. Tive, com toda a sinceridade, dois retornos. Em um deles, fui chamado para um teste. Que eu saiba de todos os que concorreram comigo ninguém foi contratado, o que me leva a crer que fomos uma turma de incapacitados. Ou não?

Foi lá longe, no Rio Grande do Sul, onde nunca estive profissionalmente, que me deram a chance de ser freelancer de uma revista. Analisaram o meu currículo, pediram textos e acharam que eu servia. Numa empresa de comunicação aqui do Paraná, em Curitiba, telefonei oito vezes e nem consegui um contato de cinco minutos com o diretor de redação.

O que eu puder
eu faço com gosto


Por isso volto a falar do fechamento da loja de calçados. Eu pouco posso fazer pelos funcionários que ficaram sem emprego desde esta segunda-feira. Eu posso ajudar com o meu blog, debatendo, ponderando, pedindo a participação de pessoas especializadas que possam encaminhar esta discussão: o mercado de trabalho especializado está muito restrito. Tem que ser jovem, tem que ter especialização (mesmo que o título seja comprado), tem que ter inglês fluente. A experiência é raramente considerada.

Torço muito para que os bons vendedores daquele loja, que neste momento é apenas mais uma porta fechada, consigam empregos rapidamente. Eu, com dez meses parado, quase cheguei ao fundo do poço financeira e psicologicamente. Não quero isso nem para o meu pior inimigo.

Se apostam na dignidade, na ética, na boa vontade, na solidariedade, na justiça e na verdade, estou aqui. Se for necessário, encabeço a formação de um fórum, ou um grupo de apoio, enfim, um organismo para discutirmos isto que manifestei acima e muito mais. Espero não ser uma voz perdida no meio da multidão. Muito Obrigado.

domingo, 30 de maio de 2010

Para relaxar - É domingo, então vamos ao doce som da boa música

Escondemos os problemas cotidianos atrás da porta. O domingo é para descontrair. Pelo menos hoje, vai... na voz do grande e eterno Gonzaguinha, Sangrando. O vídeo foi extraído do Youtube. Mas há como saber muito mais deste talento no site http://www.gonzaguinha.com.br

sábado, 29 de maio de 2010

Arte no sangue - Pedras e sementes mexem com a vaidade das mulheres



Basta uma boa dose de bom gosto e muita sensibilidade artística para fazer de um punhado de sementes ou pedras uma peça cobiçada pelas mulheres. A artesã Cláudia Lunardi percebeu isso há 10 anos, quando ainda morava em São Paulo. Artista plástica, ela também trabalha com óleo sobre tela, mas ultimamente as atenções estão voltadas para as pulseiras, os brincos, os colares e as demais peças de artesanato, cujo principal alvo são as mulheres.

Cláudia, mãe da farmacêutica Milena, de 25 anos, e da médica veterinária Michele, de 28 anos, que faz doutorado na Universidade Estadual de Londrina, veio com o marido Arnaldo há nove anos de mudança para Londrina.

Aqui ela decidiu, junto com a mudança de endereço, também por uma transformação em sua vida. Especializou-se na arte de produzir as peças artesanais e, ao mesmo tempo, estruturou-se para poder colocar sua produção à venda.

Atualmente, ela participa da Feira da Oportunidade do Terminal Rodoviário de Londrina nas sextas-feiras e nos domingos à tarde. No sábado e no domingo de manhã está na feirinha do Calçadão. Eventualmente, participa de feiras que são realizadas em locais onde ocorrem eventos comunitários.

Além desses locais, os interessados podem conhecer os produtos em contato com a artista. Os telefones: (43) 3321-8669 / (43) 9901-0561. O e-mail: lunardifilho@yahoo.com.br.

Manifesto - Vandalismo oficial




Eu vi uns milicozinhos da Prefeitura de Londrina, vestidos de soldadinhos, ajudando operários numa obra de moleque, que me fez lembrar de vandalismo. Eram mais de dez. Transformaram aquele ato numa festa. Era o prazer, o gozo, a vingança num desafeto que não podia, imagino, ser o dono da banca de jornais e revistas destruído com o respaldo da Justiça na sexta-feira.

Ficava na esquina da rua Sergipe com a rua Paraíba, na pracinha que no lado de baixo é cercada pela rua Quintino Bocaiúva, no centro de Londrina. Ponto tradicional das trocas e vendas de figurinhas.

Sobrou, como se vê na foto, um vazio. Com o tempo restará sujeira, porque a banca foi destruída e em seu lugar ajuntarão lixo, resíduos, detritos e resquícios de um tempo de quase autoritarismo em determinadas decisões.

Sobrou também um microempresário que perdeu ponto e negócio.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Bonitas camisas, Fernandinhos



Dois Fernandos que o Brasil já teve apertaram o cerco em torno de importantes conquistas dos trabalhadores e tentaram acabar com os efeitos de algumas delas. Pagamento de campanha ou simples prazer de beneficiar patrocinadores? Na pior das hipóteses, prazer sim. Mas de achatar o trabalhismo nacional.

Fernando Collor foi um deles. Defensor da idéia de que tudo o que é de fora é bom, ensaiou um neoliberalismo de proveta. Conseguiu encolher o modernismo e o crescimento, ao transformar um capitalismo selvagem e um monstro sem olhos, sem ouvidos, sem nariz e sem boca.

O outro Fernando, o que fez de diferente? Discursou muito. Rei da teoria e dos conceitos estrangeiros, avacalhou com o trabalhador para aliviar a tensão da corda esticada pelo empresariado. Tentou legitimar a informalidade, feita por milhares de brasileiros que não tinham emprego.

Na realidade, não somente os dois, mas outros que tivemos antes (na foto, um deles - fez muito escrevendo um livro e ganhou cadeira na academia) e este de agora, que vimos frequentemente em fotos captadas no exterior, sempre viram os encargos trabalhistas como os inimigos declarados da iniciativa privada. Esquecem que eles próprios contribuiram para tornar a economia brasileira um pesado avião que não consegue decolar.

Donos de inteligências perigosas, todos enganam. É o que se vê, pois conseguem retornar ao poder mesmo que tenham sido tirados dele à força. Ou será que nós, eleitores, somos realmente burros?

Se Lula é estadista, conforme avaliam algumas grandes personalidades políticas do exterior, então temos que assumir a nossa ignorância. Pois, cá pra nós, ele é o rei do assistencialismo e desse trono obtém dividendos eleitorais.

E se o passado é o melhor parâmetro, então temos na cabeça da briga presidencial dois sucessores de nada. Dilma e Serra são o continuismo de alguma coisa que deu certo para apenas alguns. Ou a enorme onda que remexe a corrupção, de um canto a outro do Brasil, é apenas uma coincidência?

Ah, vão dizer que a origem disso está no descobrimento e na colonização. E então? Justifica alguma coisa? Nada.

Mas o Dunga está levando os boleiros para fora. Curitiba, se for tomado como base a euforia dos jornalistas esportivos cá da terra, viveu momentos de glória. Cá no Norte do Estado vimos vitrinas timidamente enfeitadas de amarelo, verde e azul. Decoração bem mais fraca que a da comemoração da independência.

Talvez porque, na inconsciência, todos sabem que ainda esperamos pelo grito da dignidade, apesar de um tempo incerto. O Brasil de Dunga traz a taça? O Brasil de Serra e Dilma continuará achatando a qualidade de vida dos trabalhadores, aposentados e pensionistas? O Brasil de Lula continuará palco de escândalos?

Sem respostas, vamos continuar enviando donativos para o Haiti. A Caixa Econômica Federal continua em campanha por contribuições, conforme se lê nos caixas eletrônicos do banco. Isso quando eles funcionam.

Terá, portanto, toda razão o leitor que considerar este texto uma salada mista. Pois, como na política, hoje estamos aqui para confundir.

A foto extraída do Google é para ser emoldurada e pendurada na parede da sala. Mantenha no quadro um espaço em branco para incluir o Lula.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Data comemorativa - 25 de maio

Dia do Trabalhador Rural, Dia do Vigilante, Dia do Massagista. A poucas horas do fim deste dia, os parabéns para estes profissionais que, a rigor, trabalham e merecem todos os dias.

Curtas - Para ficar um tanto indignado

- Capa do oficialesco JL, edição desta terça, 25 de maio, traz, como de costume, manchete da Prefeitura de Londrina: "Prefeitura projeta 17% de aumento de receitas". O caos na saúde merece quatro linhas de uma coluna em cima, abaixo das três linhas de duas colunas dedicadas à fiança de R$ 317 mil paga pelo advogado do Ciap para sair da cadeia. A chamada é: "Advogado de Oscip paga R$ 317 mil de fiança e é solto". Desconfia-se quando se generaliza. A estampa omite qual é a Oscip.

- Menos mal no outro jornal, a Folha de Londrina. É a impressão que se tem olhando a capa. A manchete é "Fantasmas" da Assembléia assombram o interior. Chamativa, instiga para a leitura. Não se sabe ainda o que tem dentro, mas o embrulho interessa. A segunda manchete é de economia: "Fusão à vista entre Corol e Cocamar".

- No JL, nada sobre a falta de pessoal de atendimento na Agência do Trabalhador. A televisão do mesmo grupo dedicou um razoável espaço para o tema. Trabalhadores desempregados que disputam uma vaga e trabalhadores demitidos que precisam entrar com o processo do Seguro Desemprego aguardam horas pelo atendimento.

- Uma matéria que merecia repercussão profunda: "Ministros recomendam a Lula vetar reajuste de 7,7%". É sobre o reajuste para aposentados e pensionistas da Previdência Social que ganham mais que um salário mínimo. Lembro que esta cidade tem dois ministros. Só ai dá um gancho, quando se quer produzir algo sério.

- Declare Guerra - no http://walterogama.blogspot.com/, vídeo do Barão Vermelho. Muito a ver com o artigo que será postado ainda hoje naquele espaço.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Recado - Leia nesta terça-feira, 25 de maio, na série O homem despido:

Londrina, cidade orfã, em destaque no blog http://walterogama.blogspot.com/.
A ausência dos políticos e dos líderes classistas na busca de soluções para os problemas da cidade.

Saúde em frangalhos, segurança pública no limite do tolerável e falta de funcionários em órgãos vitais, como o Sine, colocam a população em total estado de abandono.

Nem só o prefeito merece ser responsabilizado. Londrina tem dois ministros, um assessor direto da Presidência da República, deputados federais e deputados estaduais com a obrigação de exigir dos culpados por esta situação providências urgentes.

O londrinense está cansado de promessas em períodos eleitorais. Todos os candidatos a prefeito nas eleições de 2008, e não somente este que está no cargo, garantiram nos programas eleitorais uma cidade mais justa e digna.

Mas, passado o processo eleitoral, a impressão é que, daquele grupo, não restou um único londrinense e cada um defende o seu quadrado. Está na hora de surgir um líder autêntico, capaz de mobilizar a sociedade.

LEIA NESTA TERÇA-FEIRA, 25 de maio de 2010, em http://walterogama.blogspot.com/. Ponderações sobre o mesmo assunto neste blog.

domingo, 23 de maio de 2010

Hora de fé - Dia de Nossa Senhora Auxiliadora



Esta segunda-feira, 24 de maio, é o Dia de Nossa Senhora Auxiliadora. Na foto acima, parte das comemorações, na Paróquia do Jardim Dom Bosco (Avenida Maringá, em Londrina), que tem a Santa como padroeira.

Peço em nome de todas as pessoas de fé, católicas ou não, que a Mãe Divina traga justiça a todos os trabalhadores. Para aqueles que estão empregados e para aqueles que por alguma circunstância estejam fora do mercado de trabalho.

Que os patrões e os coordenadores de recursos humanos sejam justos na escolha dos seus funcionários. Que valorizem as pessoas de bem. Que não se moldem radical e cegamente em modelos de gestão de pessoal importados de países do primeiro mundo, com exigências excessivas de especialização e de idiomas, em detrimento da experiência profissional e capacidade do trabalhador brasileiro.

Que não façam da idade um critério maldoso, excluindo pessoas que podem, precisam e devem trabalhar. Mãe, que os homens de boa vontade tenham a sua benção. Protegei-nos da injustiças, da inveja, das maldades cometidas por alguns de nossos irmãos.

Toque com a sua mão a nossa alma, para que possamos seguir com dignidade e ética.

sábado, 22 de maio de 2010

Opinião - Compensação é cascata


A polêmica sobre o funcionamento do comércio de Londrina nas tardes de sábado não existiria se uma questão básica e lógica fosse equacionada com inteligência.

Certa vez um colega retornou dos Estados Unidos, onde permaneceu por cerca de um ano, e comentou comigo que lá ninguém se incomoda em trabalhar nos sábados, domingos e feriados.

Claro, a relação de trabalho é diferente por lá. Ganha-se pelo que se trabalha. Então quanto mais a pessoa trabalha mais ela ganha. Assim também é no Japão, com os dekasseguis. Alguns dos brasileiros que estão no país do sol nascente brigam para fazer jornadas extras. Nos bons tempos, antes da crise, havia brasileiros que trabalhavam 18 horas por dia.

Aqui, pelo contrário, inventaram a compensação e transformaram esse negócio desaforado em algo legítimo. O trabalhador faz horas extraordinárias mas não ganha o excedente em dinheiro. Ele é obrigado a compensar com folga. Ou seja, se trabalhou no domingo, o padrão escolhe um dia da semana de pouco movimento e dá folga.

É bom lembrar: esse negócio surgiu lá no ABC do Lula, para evitar demissões. Os demais sindicatos entraram no jogo e aderiram. Os patrões gargalharam de felicidade.

Agora, se estes patrões querem manter as portas abertas nas tardes de todos os sábados, a receita é simples: pague pela hora trabalhada em dinheiro, e não em folga.

Na foto acima, trecho reformado do Calçadão de Londrina na manhã de sábado, dia 22 de maio de 2010. Movimento muito aquém de certas pretensões. Veja que o que dá cor são as barracas dos artesãos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Conto - Jabuticaba do mato


Para relaxar, o trecho de um conto, escrito anos atrás e postado em outro blog, hoje desativado. Por ser fim de semana, período ideal para replanejar:

Eu tenho a sua imagem gravada em todos os arquivos da memória. É só o que me resta do seu instante que tive e pouco soube guardar. Os olhos são negros, brilhantes, tanto quanto a cor dos cabelos. A pele é macia, os lábios carnudos, o jeito de olhar é eterno.


Eu vejo você difusa. Como o adiante que persigo atrás do pára-brisa ofuscado pela neblina de uma madrugada sem fim.


Sensação estranha. Quero pisar e vencer a próxima curva, mas outras aparecem. Então eu reduzo, não tanto pelo cuidado, mais pela decepção da imobilidade. Nunca encontro o seu caminho.

Assim eu me rendo. Deixo-me tomar pela solidão. Onde é, afinal, que eu te encontro?


Nem eu sei o que me responder. Só sei dos seus olhos, olhando pra longe, muito distante.

E eu nunca estive lá.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Crônica - Viva o bom vendedor

Desempregado após 33 anos de trabalho com carteira assinada, além de quatro na condição de aprendiz em laboratório de prótese dentária, tive o meu currículo selecionado em uma área na qual nunca atuei. Sou profissional de comunicação, com predominância no jornalismo impresso, apesar de ter feito televisão, assessoria de imprensa e ter lecionado por dois anos como professor auxiliar da Universidade Estadual de Londrina. O meu primeiro emprego com registro em carteira foi em uma agência bancária, o extinto Ginko, na rua Sergipe, centro de Londrina.

Pois é. A área na qual o meu currículo foi selecionado era o de vendas. Na apresentação do currículo expus que me considerava excluído do mercado da comunicação, pois além de contatos pessoais, telefonemas e Correios, não tive respostas para mais de duzentos e-mails candidatando-me a vagas. Na mensagem ao empregador também disse que podia usar o conhecimento em comunicação para trabalhar com vendas. À minha idade, de 53 anos, relacionei a experiência.

Foi sorte. O currículo foi parar nas mãos de um profissional experiente em vendas, que respondia pelo cargo de supervisor. Felizmente, a empresa, de pequeno porte, não dispunha de recursos humanos. Esse supervisor me deu treinamento e por duas semanas acompanhei um veterano. A partir daquele ponto eu teria que seguir sozinho.

Confesso. Fracassei. Não tenho talento para vendas e é por isso mesmo que admiro muito as pessoas que fazem dessa atividade o ganha pão. São mestres que percebem o ponto de interesse de quem compra. Não pude permanecer nesta área, mas aprendi muito no período em que tentei.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Opinião - Reino da influência

Oito meses em Brasília no ano de 2004 me colocaram em contato direito com um mundo que eu desconhecia aqui na minha terrinha roxa, Londrina. Fui para lá sem emprego, num ônibus que trazia sacoleiros do Paraguai, passava por Maringá, apanhava passageiros em Londrina e seguia pela Rodovia Transbrasiliana até a Capital da República.

São cerca de 1200 quilômetros. Na época, o trecho da Transbrasiliana entre Lins, no Estado de São Paulo, e Goiânia, lá em Goíás, era tomado por enormes crateras. O ônibus da empresa Expresso Nacional seguia lento, balançando passageiros que suavam com o calor e enfrentavam durante a maior parte do percurso o cheiro insuportável do banheiro.

A demora, por culpa também das paradas em praticamente todos os postos das polícias rodoviárias federais e estaduais - passava-se pelo Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás e finalmente Brasília - era de, no mínimo, 18 horas de viagem.

Lembro que, numa madrugada, a parada num posto policial me proporcionou uma cena interessante. Checavam todas as bagagens do ônibus e entravam com as lanternas acesas apontadas para os rostos dos passageiros. É que a maioria dos viajantes traziam produtos do Paraguai para serem vendidos em Goiás e em Brasília, no camelódromo montado bem embaixo do prédio da Secretaria da Receita Federal. Estranho isso, não acham? Este prédio é uma das pontas da chamada Esplanada dos Ministérios, que leva ao Congresso nacional e ao Palácio do Lula.

Depois da lanterna na cara e da verificação das bagagens, sobe o motorista e pergunta de quem é a sacola tal. Desce o dono, que demora lá fora meia hora e retorna, entre satisfeito e inconformado. O que será que houve lá fora? Pergunto se foi acerto e ele não me responde. Apenas me sorri, amarelo.

Em Brasília, produzi muitos projetos de comunicação para shoppings, condomínios médicos e políticos. Um dia desci a pé o prédio do Anexo IV, onde ficam os gabinetes dos deputados. Passei de porta em porta pedindo uma chance de trabalhar.

Nas empresas de comunicação levei currículos mas não consegui passar da portaria. Nem cheguei a conversar com recepcionistas, pois o próprio funcionário do portão se responsabilizava de entregar o documento ao recursos humanos.

Ah, sim. Consegui conversar com um deputado, que me solicitou a elaboração de um projeto específico de comunicação para ele. As negociações seriam feitas via assessor. Com o projeto pronto, visitei por quatro vezes o intermediário, sem sucesso.

Um dia alguém de lá mesmo me disse que eu estava perdendo tempo. Paulista, aquele conhecido que estava lotado no gabinete de um senador me disse que tudo em Brasília funciona na base da influência. Para conseguir um emprego, recorra a uma autoridade, que vai ligar para a direção de uma empresa. Para acertar um contrato de um projeto, não só use de influência, mas saiba negociar colocando no orçamento 20 por cento para lá, 10 por cento para cá e assim por diante.

Retornei a Londrina oito meses depois. Talvez eu me sinta culpado. Será que fui eu quem trouxe de lá essa coisa pegajosa de se empregar somente amigos, protegidos, apadrinhados e etecetera? A coisa aqui também está muita preta.

E viva o Dunga, prefeito de algum lugar.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Debate - Sem cadastro de reserva

Concursos públicos movimentam muito dinheiro e quando são destinados exclusivamente para formar cadastro de reserva - não há vagas disponíveis - sente-se, no mesmo instante em que se ouve o tilintar das moedas, o cheiro de maracutaia.

Especialistas em concursos dizem que grandes empregadores estatais, como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, o INSS, a Receita Federal e a Petrobras, por exemplo, quando realizam concursos para formação de cadastro costumam chamar um bom número de aprovados.

Mas alguns empregadores vinculados aos governos estaduais são conhecidos por deixarem na mão candidatos que obtiveram boas classificações em determinados cargos. No Paraná, Copel e Sanepar realizaram nos últimos anos muitos concursos para cadastro de reserva. Há candidatos aprovados até o 10º lugar que ainda não foram chamados em concursos encerrados há quase dois anos.

O Senado, pelo que se observa, está cumprindo a sua parte. No dia 24 de fevereiro, o Projeto de Lei  (PLS) 369/2008, que proíbe o concurso público exclusivamente para formar cadastro de reserva passou pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) e foi encaminhado para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Dali, se houver aprovação - a decisão é terminativa e não necessita de ir à votação no plenário da Casa - o projeto segue para a Câmara dos Deputados.

Entre os senadores que integram as duas comissões, houve quem considerasse uma imoralidade realizar concurso público para vagas que não existem. Paga-se, afinal de contas, muito caro por alguns inscrições, que chegam a até R$ 110,00.

Alguns desses concursos são realizados em anos eleitorais. O dinheiro arrecadado nas inscrições vai para muitos lugares: o órgão público que forma o cadastro de reserva, a instituição que realiza o concurso, os fiscais, as escolas onde serão realizadas as provas e etc. Normalmente, a instituição realizadora do concurso é braço da máquina governamental. Caso da Copese, da Universidade Estadual de Londrina.

Detalhe: se o Senado abriu os olhos para o risco do concurso de formação de cadastro de reserva ser um engodo, ai tem. Fiquem de olho, candidatos. Enquanto a proibição não chega, inscrevam-se somente quando o empregador é confiável.

Opinião - Direitos abocanhados

Da colaboradora assídua deste blog, Marghô Olhier, mais uma importante contribuição. Neste artigo, ela reclama de precariedades da legislação trabalhista para algumas categorias. São quase seiscentos deputados federais e cerca de oitenta senadores. Que pelo menos alguns desses se atentem para o problema citado por Marghô. Se é que tenham tempo para "coisas tão pequenas"...

"Amigo eu não tendo mais oportunidade no mercado de trabalho, talvez pela minha idade, aos 49 anos resolvi então fazer um curso de especialização de serviços domésticos em uma instituição muito conhecida na cidade de Curitiba, Paraná.

Pois bem, logo em seguida eu consegui um emprego de doméstica em uma residência de pessoas de alto padrão de vida. Trabalhei durante dois anos, com muita dedicação e pontualidade.

Eu tive que sair do emprego por motivos de mudança de cidade. Grande foi a minha surpresa ao receber o meu acerto, pois vi que não tinha direitos a seguro desemprego muito menos a FGTS por eu pertencer a uma classe doméstica.

Agora eu te pergunto, é justo isso? Os nossos governantes fazer isso? Pois eu tenho comigo que a classe doméstica é merecedora tanto quanto outra classe de trabalhador qualquer. Eu sou contra, acredito que muitas empregadas domésticas mereciam muito mais a atenção dos nosso governantes.


Aqui amigos, vai o meu protesto. Sou Marghô Olhier, profissão telefonista, consultora de vendas e empregada doméstica."

Torço para que um bom advogado tenha acesso a este artigo de Marghô e entre em contato conosco. O link de postagem está à disposição. Mas o interessado pode fazer contato pelo e-mail foradomercado@gmail.com

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Curtas - Só para quebrar o gelo


Sem jogada dupla


Débora Lyra, escolhida Miss Brasil 2010, doou o vestido que usou no concurso para o Santuário de Aparecida, em Aparecida do Norte. Não me pareceu armação. Acredito que não houve jogada de marketing de ambos os lados, a igreja e a miss. Débora, que venceu por Minas Gerais, nasceu no Espírito Santo, onde foi despontada para o mercado da beleza.

Uma promessa?

Ela apareceu na missa de domingo de manhã, transmitido para todo o Brasil. Sem alarde, misturada no meio da multidão de fiéis e pouco antes da oração a Nossa Senhora entregou o vestido para a igreja. Se for isso mesmo, mostra que Débora não cedeu ao oportunismo e, como pessoa de fé, apenas fez um gesto de gratidão. Ou terei que recorrer a Milan Kundera e acreditar na insustentável leveza do ser?

Direito de ser vulgar

Vou usar palava chula, não posso me conter. Certo dia, no centro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, eu e dois colegas jornalistas seguíamos de carro. Pouco antes de uma curva um motociclista cortou a frente e, para ajeitar a sua condução de duas rodas na pista, fez aquele jogo de balançar as nádegas de um lado e de outro do assento. Meus colegas apelaram:

- Walter, o motocisclista peidou na nossa frente (esta é a palavra chula do texto).

Olha, foi duro convencer os dois que o motociclista apenas jogou o corpo de uma lado ao outro para ajudar na curva. O importante é que eu aprendi a lição. Sou motociclista e, desde então, faço as curvas devagar para não ter que rebolar diante de um motorista maldoso.

Aliás...

Está difícil andar de moto nesta cidade. E a culpa não é só do trânsito. Com o grande número de registros policiais envolvendo motociclista e garupa, em assaltos no centro e bairros de Londrina, a polícia pára qualquer um que use um boné embaixo do capacete. Boné e moto, portanto, neca...

Nos semáforos, então

Outro dia sai com a porta do passageiro do meu Uno aberta. Num semáforo, o motociclista parou do ladinho e me fez um sinal. Confesso que tremi. Ele empurrou a porta e a fechou. Por culpa de uns, a gente desconfia até dos solidários. Agradeço aquele rapaz, que depois eu percebi: era um trabalhador de uma empresa conceituada, conforme o macacão que vestia. Muito obrigado, desconhecido, pois no momento não pude agradecer pelo seu ato!

Variações de um mesmo tema

- Na entrevista de emprego – A senhora tem inglês fluente e avançado? Tenho os dois. Mas agora, com 56 anos, ele não tem sido muito fluente. Mas tenta ser avançado. Como assim? O meu marido é inglês, sempre teve imaginação fértil no quarto, mas ultimamente, com a idade, deita, dorme e ronca que nem um porco.

- Na fila da agência de empregos – Você tem especialização? A vaga exige uma especialização. Ih, eu não tenho, onde está escrito isso? Nas exigências mínimas, você não viu? Não. E agora? Esta você já perdeu, mas volte para casa, entre num site e compre um certificado daquelas faculdades lá do interior. Mandam pelos Correios...

- Na sala de espera de uma empresaEu tenho MBA. Fiz na fundação tal. Tive fulano como professor e... Dos demais presentes no recinto, dois se desculparam e disseram que iam lá fora fumar. Outro alegou sede. Três justificaram que estavam com vontade de urinar. Até a recepcionista, que fazia de conta que não ouvia nada, pegou o telefone que nem havia tocado e simulou atender um cliente.

- Opus dei – Mas juro, foi só o opus. O resto não dei nada. E viva Navarra, no Brasil uma excelente geradora de "líderes" dominadores no mercado de trabalho.

domingo, 16 de maio de 2010

Homenagem - Dia do(a) Assistente Social

Retiro do site do Conselho Federal de Serviço Social trecho do manifesto em homenagem ao Dia do(a)  Assistente Social, comemorado em 15 de maio. É uma categoria com cerca de 90 mil profissionais espalhados pelo Brasil. O manifesto aborda o tema Trabalho com direitos, pelo fim das desigualdades.

O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) homenageia todos/as assistentes sociais que fazem do Serviço Social brasileiro uma profissão que afirma cotidianamente a luta contra a desigualdade por meio da competência técnica, do compromisso ético-político com movimentos organizados em defesa dos direitos da classe trabalhadora e de uma sociabilidade libertária e emancipadora, que supere todas as formas de exploração e opressão humanas. Não é demais lembrar que este compromisso se expressa, sobretudo, a partir dos idos de 1970 e início dos anos 1980, sob a incidência das lutas políticas democráticas que se enraizavam em toda América Latina e que forjaram as condições objetivas e subjetivas para o processo de virada, cujo marco foi o 3º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em 1979. Este processo exigiu um novo perfil ético, político e profissional incorporado nos Códigos de Ética de 1986 e 1993 e na Lei de Regulamentação da Profissão, de 1993. Neste 15 de maio e, em todos os momentos de 2010, queremos comemorar com você, assistente social, a construção e o fortalecimento do nosso Projeto ético-político, que só se materializa pelo compromisso e envolvimento coletivo. Está assegurado em nosso Código de Ética (1993), na Lei de Regulamentação da Profissão (8.662/1993) e nas Diretrizes Curriculares da ABEPSS. Preservar, fortalecer, conquistar a adesão de novos sujeitos e consolidar este Projeto é um desafio e ação política estratégica de todos/as nós, assistentes sociais. Exige uma postura profissional que articule a radicalização da democracia com o fortalecimento das lutas sociais, na perspectiva da resistência coletiva. Exige a ruptura com o conformismo, com o conservadorismo e com perspectivas endógenas que sombreiam a profissão. Fortalecer as lutas sociais para romper com a desigualdade significa contribuir para que mulheres e homens, oprimidos/as pelo capital, se reconheçam e se constituam como sujeitos políticos e coletivos, que lutam aguerrida e cotidianamente em busca de liberdade e emancipação humana.

Leia o documento na íntegra em http://www.cfess.org.br/arquivos/2010.05.15_DiaAS_final%28BAIXA%29.pdf

sábado, 15 de maio de 2010

Recorte - Discriminação e desemprego

Os meios de comunicação bombardeavam ouvintes, telespectadores e leitores diariamente com notícias sobre mortes, tráfico de drogas, prisões e outros crimes.


Nunca por mera coincidência, mas pela forma como os bairros União da Vitória e Franciscato haviam surgido, de ocupações irregulares promovidas por pessoas de diferentes origens e de loteamento popular, os personagens negativos das informações jornalísticas estavam ligados a estas comunidades.


Assim, os União da Vitória e o Franciscato ganharam famas negativas. Se nem por parte de alguns profissionais da imprensa havia a preocupação de evitar a generalização, imagine a idéia que as populações de outros bairros de Londrina faziam de todos os moradores dessas comunidades?


A inconseqüência e, por vezes, a falta de ética de alguns profissionais do jornalismo, transformavam, sem exceção, de crianças a idosos em bandidos.


O estigma ganhou o mercado de trabalho, que passou a eliminar nas entrevistas os trabalhadores que moravam naqueles bairros.


Quem tinha a sorte de estar empregado e em situação financeira estável, mas ousasse preencher um cadastro de crédito nas lojas com o endereço dos União da Vitória ou do Franciscato, normalmente deixava o estabelecimento com o parcelamento negado mediante justificativas nem sempre convincentes.


Rosalina experimentou o peso desse estigma naquela manhã de sol forte. Ao chegar ao serviço, a patroa apresentou friamente a sua posição sobre a empregada: Rosalina estava dispensada, pois não era conveniente para a família ter uma pessoa que morava no Jardim Franciscato trabalhando na casa.

Trecho de capítulo do livro Sou Cidadã - Trajetória e conquistas de uma líder comunitária, Rosalina Batista. O livro pode ser comprado diretamente com a personagem, Rosalina Batista. Contatos pelo telefone (043) 9146-5733. Na foto acima, a personagem, durante curso de bordado em tecido na Biblioteca Virtual do Jardim Franciscato, Zona Sul de Londrina.

Walter Ogama

Boa contribuição - Persistência exemplar

Recebo de Marghô Olhier, que mereceu uma crônica no blog de contos, crônicas e reportagens (clique ao lado em Minha lista de blogs, Walter Ogama), uma importante contribuição. A crônica conta a história de Marghô, que aos 52 anos de idade tem muita dificuldade de encontrar um emprego. Nesta contribuição ela mostra que é persistente em sua luta:

"Como eu ja lhe confirmei amigo, eu não desisto de meus sonhos, de um dia ter um emprego com registro em carteira e uma remuneração justa. Segue aqui, amigo, um ponto que me inspira a seguir a minha jornada:

Nunca desista de teus Sonhos:


Existiu um homem que faliu no comércio aos 31 anos de idade. Concorreu sem se eleger a deputado estadual aos 32 anos; e faliu novamente no comércio aos 34 anos; aos 35 anos sua esposa faleceu; ele teve um colapso nervoso aos 36 anos; perdeu as eleições para prefeito aos 38 anos; tentou sem sucesso ser deputado federal aos 43 anos; candidatou-se para deputado estadual aos 46 anos e não se elegeu; foi candidato a deputado federal aos 48 anos e não se elegeu; também perdeu para senador aos 55 anos e perdeu, novamente.


Quantos de nós ja teriamos desistido ha muito tempo... E este homem que nunca desistiu foi à luta; e foi eleito presidente dos EUA aos 60 anos.


Este homem foi Abrahan Lincon, considerado pelos americanos como o melhor presidente que os Estados Unidos teve até hoje.

É Amigo, é como eu digo, não desisto jamais de um dia, de uma maneira ou de outra, chegar lá. Estou na luta e confio em minha capacidade e em meu pensamento positivo.


Mesmo que a sociedade em que vivemos não reconheça que uma experiência de vida em meus 52 anos vale mais do que uma pessoa de 20 que começa a vida agora e não tem a mesma bagagem que eu e você temos."


Marghô Olhier

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Pergunta:

Serra e Dilma já providenciaram a papelada para entrar com o processo de aposentadoria?

Leia em http://walterogama.blogspot.com/ ou clique na margem à direita Walter Ogama, no link Minha Lista de Blogs.

Destaque - Tanto lá quanto aqui

Recebo de um amigo blogueiro lá de Jaraguá do Sul, Santa Catarina, onde trabalhei por três anos, uma postagem sobre as Curtas, nas notas que fazem referência à quantidade de casas comerciais com as portas fechadas. Reproduzo abaixo:

"Engraçado que na grande mídia se pinta um quadro bem diferente do retratado pelo amigo Walter Ogama. Se fala que o Brasil saiu ileso da crise na rua, mas um simples olhar no comércio local seja em Londrina ou até aqui mesmo aqui em Jaraguá do Sul se percebe que o mar não tem tantas rosas assim. Aqui perto de casa, pelo menos duas lojas do setor de vestuário adulto e infantil fecharam as portas. Para onde vão estas estatísticas. Provavelmente para debaixo do tapete eleitoral."

Acesse o blog do amigo de lá:

http://jaraguaemdia2010.blogspot.com/

Lançamento - Agradecimentos especiais

Entre a primeira semente e o fruto colhido foram dois anos. Por fim está agendado o lançamento do livro Sou Cidadã - Trajetória e conquistas de uma líder comunitária, Rosalina Batista. Na noite desta sexta-feira, dia 14 de maio de 2010, às 20 horas, no Centro de Convenções da Faculdade Inesul.

Há eventos cujos salões são decorados com purpurinas. Este, meu e da Rosalina Batista, é de suor e lágrimas. Sem dinheiro, tivemos que adiar por muitas vezes a finalização da primeira etapa deste trabalho.

Na verdade, o livro só saiu com o patrocínio da impressão de 500 exemplares e também do evento de lançamento pela Inesul. Caso contrário, o projeto permaneceria na gaveta.

Tenho algumas pessoas que merecem agradecimentos especiais. Em algum momento destes dois anos elas foram muito importantes:

- O Nelson Capucho e a Ruth Meira, do Portal Londrix (agência de notícias), foram fundamentais;

- A mesma referência ao Cláudio Osti, do blog Paçoca com Cebola;

- Ao jornalista Francismar Lemes, da Folha de Londrina, autor de matéria sobre o livro;

- Ao João Arruda e Beth Debértolis, pelo apoio incondicional;

- À Maria Izabel Aguiar, a Bel, por ter revisado e analisados os primeiros textos do livro;

- À Maria Aparecida Guerra, ao Wellington Thiago, ao Francis Vinicius e ao Mickael Hermano, por serem parceiros em todos os momentos;

- À Deborah Novaes, também pela avaliação do texto e do conteúdo;

- À Márcia, pelo apoio incondicional.

Acho que é isso.

Walter Ogama

Daqui a pouco - A história de Marghô

Ainda hoje redijo e posto a história de Marghô Olhier, 52 anos, que batalhou a vida toda e agora não consegue um emprego formal por causa da idade. No blog de contos, crônicas e reportagens.

http://walterogama.blogspot.com/

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Contrário - Era para eu me mandar

Sonhei que aquele indíviduo, aquele mesmo que me acenou com uma vaga e me fez deixar o emprego que eu tinha corria atrás de mim e eu fugia.

Interessante, ainda no sonho caiu a ficha: ele me punha a correr para que eu saisse dos pesadelos dele.

Fazer o que - Mania de político

Toda vez que me encontra aquele sujeito insiste que tem que sentar para conversar comigo. Cá entre nós, se é para falar sobre possibilidades inviáveis, prefiro conversar rapidamente de pé, numa esquina, onde não se atrapalhe os pedestres.

Frase batida - Invente uma versão

Surradinha, mas sempre atualizada:

"Cria cuervos y te sacarán los ojos"

A frase, espanhola, está se referindo a que? A um criador de pássaros e aves que tropeçou na gaiola e levou uma bicada no olho? Use a imaginação. Pense numa versão diferente.

Recado - Nada mais nada é igual a nada

Conferi por três vezes os sites e blogs que anunciam vagas para profissionais de comunicação. Num deles, umaa empresa pede recém-formado, que esteja com pós-graduação em andamento e tenha inglês avançado.

Noutro, a oferta de vaga é mais ou menos parecida: recém-formado ou que esteja cursando o último ano de jornalismo. E que tenha inglês fluente.

Disso conclui: vou ter que vender consórcio. E olha lá se nesse ramo não se exige idiomas...

Chamada - A história do Zé

Leia uma historinha simples, mas de acontecimento do cotidiano, que é a vida que rola e nos leva para surpresas interessantes.

Esta no http://walterogama.blogspot.com/

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Curtas - Sem ponta de estoque

Uma tradicional rede de lojas de calçados de Londrina está fechando as portas de mais um de seus estabelecimentos, localizado na área central da cidade. Recentemente, a rede fechou unidade localizada no Calçadão.

Ponta de estoque

As duas lojas vendiam produtos de ponta de estoque. Às vezes o consumidor encontrava calçados de grifes famosas a preços baixos porque, devido à exposição de um dos pares nas vitrinas, sob efeito do sol, havia pequena diferença de cor.

E a mão-de-obra...

Funcionária da unidade que está liquidando o estoque disse que do grupo de mais de uma dezena de empregados, no máximo dois serão reaproveitados nas demais unidades da rede. Os demais, infelizmente, ingressam na estatística do desemprego.

Quadro geral

Aliás, andar por Londrina a pé, por ruas comerciais como a Duque de Caxias, Araguaia, Jorge Casone etc., causa muitos arrepios. Muitas casas comerciais estão com as portas fechadas. Além de arrepios, esta situação causa dúvidas e questionamentos. É que alguns dados oficiais, inclusive sobre a oferta de empregos em Londrina, não conferem com o que se observa nas ruas.

Tiro o chapéu

Londrinense de coração, sempre vi Maringá com certo desprezo (no bom sentido). Recentemente estive naquela cidade com um amigo e fiquei surpreso. Aquilo lá tem cheiro de crescimento continuo.

Adversário de lá

De 2004 a 2008, trabalhei na região de Joinville. Pé vermelho, um dia eu me emocionei quando passei por uma rua comercial secundária daquela cidade catarinense e vi numa janela a bandeira do Londrina Esporte Clube. Na época, Joinville havia passado Londrina no ranking das maiores cidades do Sul do Brasil. Doeu...

Curtas é uma produção de Walter Ogama (http://walterogama.blogspot.com/)

Agenda - Sou Cidadã será lançado nesta sexta

Esclareço os amigos convidados que o Livro "Sou Cidadã - Trajetória e Conquistas de uma Líder Comunitária, Rosalina Batista", será mesmo lançado nesta sexta-feira, dia 14 de maio de 2010, às 20 horas, no Centro de Convenções da Faculdade Inesul.


Acontecimentos envolvendo esta instituição, que bancou a impressão dos 500 exemplares iniciais em acerto direto com a gráfica, e também patrocina o lançamento, causaram dúvidas em algumas pessoas sobre a suspensão do evento.

Eu,como autor, e Rosalina, como personagem, temos um compromisso com o patrocinador e vamos cumprí-lo, como sempre o fizemos.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Para os bons ouvidos - A música de Elomar

Elomar Figueira de Melo não é apenas um cantor e compositor brasileiro. Ele é de uma safra especial de artistas da música popular brasileira cujos talentos são desprezados pelo mercado fonográfico convencional. Nem por isso Elomar (seu nome de batismo é Elomar Figueira Mello) deixou de ser ouvido.

Entre o final dos anos de 1970 e o início dos anos de 1980 ele foi um dos artistas que correu o Brasil pelo Projeto Pixinguinha. Em Londrina, Elomar se apresentou com o MPB4 e o Quarteto em Cy, no Cine Teatro Universitário Ouro Verde.

Formado em Arquitetura pela Universidade Federal da Bahia, Elomar voltou para as fazendas de sua família e decidiu tocar música. Gravou o primeiro LP (bolachão) incentivado por um amigo. Foi para Salvador sem a viola, que teve que ser emprestada de uma moça. Durante os ensaios, foi descoberto por Vinicius de Moraes.

Não fosse a intervenção de um outro poeta e o destino deste talento, que já cantou com grandes orquestras nacionais, estivesse nas mãos dos coordenadores de recursos humanos das médias e grandes empresas brasileiras, praticantes cegas dos sistemas de gestão importados da Europa e dos Estados Unidos, Elomar não teria feito bem para tantos ouvidos e corações ávidos de um cantar inteligente, criativo e envolvente.

Tenho um vídeo que extrai do Youtube no meu blog de contos, crônicas e reportagens. Acesse:

http://walterogama.blogspot.com/

sábado, 8 de maio de 2010

Mensagem - Para as mamães

Livro - Sou Cidadã será lançado dia 14


A Faculdade Integrado Inesul, em Londrina, lança na sexta-feira, dia 14 de maio de 2010, às 20 horas, em seu Centro de Convenções, o livro Sou Cidadã - Trajetória e Conquistas de uma Líder Comunitária, Rosalina Batista.

Não é uma biografia. É um pretenso romance, desenvolvido com a técnica da grande reportagem, onde as ferramentas da crônica e da literatura são predominantes na maioria dos capítulos.

Para trabalhar esse estilo, usei na fase de coleta de informações a abordagem de impacto. Conheço Rosalina Batista e boa parte de suas histórias. Então decidi que jamais sentaria com ela numa sala aconchegante para ouvir a sua história.

As informações foram colhidas no improviso, durante algum evento, nos curtos intervalos do curso de bordado em tecido que Rosalina cooredena na Biblioteca Virtual do Jardim Franciscato, Zona Sul de Londrina, nas andanças entre um lugar e outro. Conversamos, sem gravador, sem bloco de anotação.

Rosalina é mineira e começou a trabalhar na roça quando tinha oito anos de idade. A família veio ao Paraná e a mudança não siginificou uma mudança na relação de trabalho dos pais desta líder comunitária, que no então Distrito de Tamarana enfrentou um regime de exploração da mão-de-obra rural.

Depois de casada, Rosalina e a família mudaram-se para a zona urbana de Londrina. De início, ela continuou trabalhando no campo, mas depois virou diarista. Um dia foi dispensada pelos donos da casa que limpava porque morava num bairro pobre e estigmatizado, o Jardim Franciscato. O bairro era foco de notícia policial diariamente, devido ao índice de criminalidade.

Foi a gato d'água. A revolta foi transformada em ação e Rosalina fundou, com  seis vizinhas, o Clube das Mulheres Batalhadoras do Jardim Franciscato, hoje uma associação. Já participou de nove eventos internacionais. É conselheira municipal e estadual de saúde.

Na foto acima, a capa do livro.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Realidade - O desemprego em números

Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) no primeiro semestre de 2010 e repercutidos pelos meios de comunicação:

O Brasil terá este ano 24,8 milhões de pessoas disponíveis para o trabalho. Mas a oferta de empregos será de 18,6 milhões de vagas. Portanto, 6,2 milhões de trabalhadores ficarão desempregados.

Estes números são para a totalidade da população economicamente ativa (PEA) do país, ou seja, os brasileiros que estão aptos para o trabalho. Já no caso dos trabalhadores com qualificação profissional, o estudo do Ipea indica que 653 mil deles ficarão sem empregos em 2010.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Ponto de vista - Excluído em todos os sentidos

Fui à missa das 18 horas no domingo, dia 2 de maio, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, pertinho de casa. Em determinado momento, o padre perguntou:

- Quem aqui é trabalhador?

Juro, fiquei sem saber o que fazer. Todos levantaram as mãos e eu vacilei. Demorei a ter uma reação e acompanhar os demais fiéis. Porque estou desempregado.

Na verdade, tento sobreviver como freelancer. Para quem não sabe, o freelancer, no meu caso - eu sou um profissional de comunicação social, formado em jornalismo - é um autônomo. Atende jornais, revistas e outros meios de comunicação com a produção de reportagens. Atende também empresas que necessitam de um projeto de comunicação.

Mas, em Londrina e no Norte do Paraná freelancer é sinônimo de desemprego. São muitos profissionais recém-formados colocados no mercado a cada ano. Em Londrina, temos três cursos de comunicação social. Em Cornélio Procópio, a 50 quilômetros, mais uma escola. Em Maringá, outra. E assim por diante.

Recentemente a Justiça derrubou o decreto que regulava a prática do jornalismo, exigindo o diploma para trabalhar. Evidente, um decreto é fácil de derrubar. A maioria das profissões são reguladas por leis.

Então se vive uma contradição: ou a empresa contrata a preço de palito de fósforo uma pessoa que não tem diploma, já que a obrigatoriedade do diploma caiu, ou aproveita a sobra de recém-formados. Pior: grandes corporações uniram o útil ao agradável, no sentido perverso. Querem pessoas que deixaram a universadade recentemente, mas que estejam cursando ou acabaram de concluir uma especialização. Além disso o candidato deve ter inglês fluente. Todas as exigências não refletem num salário razoável: as corporações pagam pouco e dispõem de profissionais que pensam pouco, evitam constranger as chefias com questionamentos, topam tudo.

Tenho 32 anos de registro em carteira. Fui bancário por seis anos e depois ingressei no jornalismo, começando por edição em jornalismo televisionado, edição de livro, assessoria de imprensa de prefeitura, assessor de instituição de ensino superior, professor universitário e assessor de comunicação em escritório político. Em jornalismo impresso foram 21 anos. Nesse segmento fui de repórter a chefe de redação.

O problema é que sou do tempo em que jornalista fazia curso de comunicação para atender as exigências da profissão. O decreto exigindo o diploma era recente e havia um prazo para os profissionais se regularizarem. O jornalismo era uma soma de talento, técnica e experiência, coberto com uma boa bagagem cultural do profissional.

Por isso deixei de fazer inglês. Por isso, mesmo tendo sido professor temporário por dois anos na Universidade Estadual de Londrina, deixei de fazer especialização, mestrado, doutorado e etc.

Hoje, com 53 anos, o mercado não me aceita. Já enviei no período de quase um anos mais de 200 currículos por e-mail. Fiz contatos telefônicos, visitei empresas de comunicação, entreguei currículos pessoalmente nas portarias de jornais. Desse monte de intervenções, juro ter recebido menos de meia dúzia de respostas. Nunca fui chamado para uma entrevista.

O meu sindicato é outra história. A exemplo de tantas outras entidades sindicais, o meu sindicato também parece ter me excluído. Mobiliza-se pelos que estão no mercado de trabalho. Esquece-se dos que estão parados. Assim, a realidade, além de tudo o que já foi exposto, é piorada com algumas situações estranhas: pessoas com dois ou três empregos, pessoas que estão trabalhando e são convocadas para freelancer, pessoas que estão trabalhando e desprezam a possibilidade de um dia estarem fora do mercado.

Dói. Dói muito.

domingo, 2 de maio de 2010

Letra de música - Trabalhadores

Transcrevo letra de música do Padre Zezinho em homenagem aos trabalhadores. Sem esquecer:

DESEMPREGADO É UM TRABALHADOR QUE ESTÁ SEM EMPREGO.

Pe. Zezinho, scj

"Deus abençoe os lixeiros e as varredeiras
e os operários que sujam as mãos
e o limpador de bueiros e as lavadeiras
e quem se suja de graxa e sabão!


Trabalhadores, trabalhadoras,
Deus também é trabalhador!


Deus abençoe os banqueiros, e os fazendeiros
e os comerciantes e os industriais
e os ilumine também, pra que não explorem
nem especulem, nem ganhem demais!

Deus abençoe os artistas e educadores
e os sonhadores do lado de lá
e os ilumine também, pra que não se esqueçam
que tem criança do lado de cá!


Deus abençoe os profetas e os religiosos
que gostam muito de profetizar
e os ilumine também, pra que não imaginem
que só seu grupinho é que vai se salvar!


Deus abençoe as mulheres trabalhadoras
porque trabalham duas vezes mais
e as abençoe também, pra que não se cansem
porque sem elas não vai haver paz!


Deus abençoe os eleitos e os eleitores
e quem governa este nosso país
e os ilumine também, pra que não se esqueçam
do excluído e do mais infeliz!"

Para debater - Sentimento de impotência

Artigo escrito por Angelita Menezes, com o título “Desemprego e suas conseqüências biopsicossociais”, pode ser lido na integra no endereço:


http://www.frb.br/ciente/ADM/ADM.MENEZES.F2%20.pdf

Proponho usar o tema para iniciar um forum. Um trecho:

"No desemprego, situação limite de vida, surge os sentimentos de desproteção, desconfiança e frustração. A comparação com as pessoas de sucesso produzidas pela mídia estabelece um parâmetro de distanciamento do social e o indivíduo considera-se um pária, um fracassado.


A perda de identidade provocada pela projeção idealizada e o não conseguir alcançá-la deixa a sensação de falha na realização de seu potencial humano, surgindo sentimentos de inferioridade e despersonalização e, finalmente, a paralisia social provocada pelo sentimento de exclusão que dificulta qualquer ação do sujeito em busca de mudanças significativas.
As formas alternativas de sobrevivência, tais como o comércio de ambulantes e trabalhadores volantes, por exemplo, fazem com que trabalhadores qualificados busquem sobreviver realizando alternativas menos qualificadas. “O que acontece atualmente, no Brasil, é que muitos daqueles que exerciam um trabalho qualificado passaram a aceitar funções de ajudante ou outros trabalhos não qualificados.” (SELIGMANN-SILVA, 1994, p. 292).


Este comportamento gera um retrocesso na escalada profissional, provocando uma baixa auto-estima muito grande na vida do trabalhador. Muitas vezes o álcool ou as drogas em geral passam a fazer parte dos mecanismos de fuga que suportam a existência vazia de quem já não tem mais esperança de realização profissional, situação que tem atingindo diferentes níveis hierárquicos, desde funcionários desqualificados até gerentes."

Leia sobre também em:

http://www.revelacaoonline.uniube.br/a2002/geral/trabalho2.html

sábado, 1 de maio de 2010

Repercussão - Perda de Identidade

Extraio do site www.deficiente.com.br artigo escrito por colaborador que se identifica como Eraldo. Foi postado em 17 de setembro de 2007. Mas é um tema que não perde validade. Tem que ser mostrado. Vamos aos parágrafos iniciais:


“Quando duas pessoas desconhecidas iniciam um diálogo, uma das primeiras perguntas que são feitas é a respeito do nome de cada um. Devidamente apresentadas, normalmente a pergunta seguinte é sobre o lugar onde a pessoa trabalha. Isso dá bem a dimensão do quanto o emprego é valorizado pela sociedade. Estar fora do mercado de trabalho é quase sinônimo de exclusão social. É como se a pessoa não tivesse uma identidade. “A sociedade costuma rotular as pessoas pelo emprego que elas têm”, afirma a psicóloga Daniela Cruz Henriques.


Muitas vezes o desempregado é taxado e tratado como uma pessoas improdutiva pela sociedade, fato que contribui para aumentar a exclusão, afetando ainda mais o lado psíquico e elevando sua sensação de incapacidade.”

Vale alguns bons momentos de reflexão.

Crônica - Sonhei que estava trabalhando

A minha mesa ficava ao lado de uma janela que dava para o nada. Do lado de lá, a parede de um edifício. Do lado de cá, uma rua sem saída. Ninguém queria aquele canto, mas era o meu espaço. Ali eu passava o dia.

Era o meu segundo lar, onde, furtivamente, eu me pegava abrindo a gaveta da escrivaninha sorrateiramente para comer, sem que ninguém percebesse, um pedaço de bolo trazido de casa. Em outras ocasiões, disfarçava para acertar os canos das meias, quando eles desciam até os calcanhares.

As pessoas que me cercavam tinham a tendência de ficarem difusas. Ora eu interagia com rostos amigos, que depois se transformavam em estranhas feições de desafeto. Ora eu estranhava por ver na escrivaninha do lado um parente que há tempos eu não via. Mas num repente aquele companheiro virava um desconhecido.

Como na vida. Amigos viravam desafetos. Parentes eram desconhecidos. Houve no sonho um momento de confusão. O ambiente de trabalhou mudou para uma sala. Havia um jogo de sofá que não me era estranho. E veio minha mãe com um copo de café quente. Então no próprio sonho eu pensei que estava sonhando.

Ainda assim eu persisti no trabalho que estava desenvolvendo. Eu não sabia para o que era. Desconhecia finalidades, objetivos e metas. Estranhava não saber para quem eu trabalhava. Assustava perceber a minha escrivaninha trocada por um sofá. Mas eu estava trabalhando.

Foi quando eu acordei ainda sob a opaca cor da madrugada que chegava ao fim. Antes, muito antes do sol atravessar a veneziana. Antes do raio de luz forte apontar para o meu rosto, na manhã de um sábado, 1º de maio, Dia do Trabalho, e me acusar quase que impiedosamente: Você é um desempregado.