Fui à missa das 18 horas no domingo, dia 2 de maio, na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, pertinho de casa. Em determinado momento, o padre perguntou:
- Quem aqui é trabalhador?
Juro, fiquei sem saber o que fazer. Todos levantaram as mãos e eu vacilei. Demorei a ter uma reação e acompanhar os demais fiéis. Porque estou desempregado.
Na verdade, tento sobreviver como freelancer. Para quem não sabe, o freelancer, no meu caso - eu sou um profissional de comunicação social, formado em jornalismo - é um autônomo. Atende jornais, revistas e outros meios de comunicação com a produção de reportagens. Atende também empresas que necessitam de um projeto de comunicação.
Mas, em Londrina e no Norte do Paraná freelancer é sinônimo de desemprego. São muitos profissionais recém-formados colocados no mercado a cada ano. Em Londrina, temos três cursos de comunicação social. Em Cornélio Procópio, a 50 quilômetros, mais uma escola. Em Maringá, outra. E assim por diante.
Recentemente a Justiça derrubou o decreto que regulava a prática do jornalismo, exigindo o diploma para trabalhar. Evidente, um decreto é fácil de derrubar. A maioria das profissões são reguladas por leis.
Então se vive uma contradição: ou a empresa contrata a preço de palito de fósforo uma pessoa que não tem diploma, já que a obrigatoriedade do diploma caiu, ou aproveita a sobra de recém-formados. Pior: grandes corporações uniram o útil ao agradável, no sentido perverso. Querem pessoas que deixaram a universadade recentemente, mas que estejam cursando ou acabaram de concluir uma especialização. Além disso o candidato deve ter inglês fluente. Todas as exigências não refletem num salário razoável: as corporações pagam pouco e dispõem de profissionais que pensam pouco, evitam constranger as chefias com questionamentos, topam tudo.
Tenho 32 anos de registro em carteira. Fui bancário por seis anos e depois ingressei no jornalismo, começando por edição em jornalismo televisionado, edição de livro, assessoria de imprensa de prefeitura, assessor de instituição de ensino superior, professor universitário e assessor de comunicação em escritório político. Em jornalismo impresso foram 21 anos. Nesse segmento fui de repórter a chefe de redação.
O problema é que sou do tempo em que jornalista fazia curso de comunicação para atender as exigências da profissão. O decreto exigindo o diploma era recente e havia um prazo para os profissionais se regularizarem. O jornalismo era uma soma de talento, técnica e experiência, coberto com uma boa bagagem cultural do profissional.
Por isso deixei de fazer inglês. Por isso, mesmo tendo sido professor temporário por dois anos na Universidade Estadual de Londrina, deixei de fazer especialização, mestrado, doutorado e etc.
Hoje, com 53 anos, o mercado não me aceita. Já enviei no período de quase um anos mais de 200 currículos por e-mail. Fiz contatos telefônicos, visitei empresas de comunicação, entreguei currículos pessoalmente nas portarias de jornais. Desse monte de intervenções, juro ter recebido menos de meia dúzia de respostas. Nunca fui chamado para uma entrevista.
O meu sindicato é outra história. A exemplo de tantas outras entidades sindicais, o meu sindicato também parece ter me excluído. Mobiliza-se pelos que estão no mercado de trabalho. Esquece-se dos que estão parados. Assim, a realidade, além de tudo o que já foi exposto, é piorada com algumas situações estranhas: pessoas com dois ou três empregos, pessoas que estão trabalhando e são convocadas para freelancer, pessoas que estão trabalhando e desprezam a possibilidade de um dia estarem fora do mercado.
Dói. Dói muito.
Há 3 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário